sexta-feira, 17 de julho de 2009

To bit or not to bit





MONOPOLIO VIRTUAL: O FIM DA LIBERDADE NA INTERNET

Sustentabilidade e Simulacros: problematizando a ciência da complexidade como abordagem epistêmica aplicada ao desenvolvimento sustentável.


Resumo

A ciência da complexidade tornou-se um paradigma epistemológico transdisciplinar capaz de oferecer um terreno para produzir simulações. As questões associadas ao desenvolvimento sustentável têm sido beneficiadas por esta característica transdisciplinar, aliada a fartos recursos computacionais. Apesar do grau de indeterminação oferecido pela ciência da complexidade, tendo no conceito de “efeito emergente” sua principal caracterização, esta abordagem ainda está vinculada à produção de uma meta-linguagem, haja vista a característica simbólica dos processos computacionais. Este trabalho problematiza a produção desta metalinguagem, visto que o conceito de sustentabilidade envolve a produção de modelos que, de uma forma explícita ou não, são produzidos a partir de um conceito de “natureza” que muda historicamente. A atual forma predominante de representação da natureza (simulacros), implica em uma crise da crítica ao discurso da globalização, uma vez que este se produz de forma acêntrica, sem sentido e puramente reversível. Concluí-se que a ausência de externalidade à modelização de simulacros aproxima os discursos sobre o desenvolvimento sustentável, mesmo que estejam situados em diferentes posições do espectro ideológico, oferecendo desafios às ações políticas alternativas.




Advento da complexidade

Baranger (2002) compara o advento da ciência da complexidade a um novo instrumento epistemológico, assim como o cálculo diferencial de Newton e Leibnitz ofereceu um novo conjunto de ferramentas matemáticas que viabilizaram uma revolução nas ciências na modernidade, possibilitando maior consiliência[1] entre a a física, a química e a matemática. Se o cálculo diferencial integral possibilitou instrumentos para a matematização do real, ou seja a interrogação do mundo por meio de caracteres matemáticos – o que tornou o universo passível de ser descifrado pela razão ao invés de ser revelado por Deus[2] -, o novo terreno da simulação, a qual a complexidade oferece seu paradigma unificador, promove um novo conceito de cientificidade e interlocução disciplinar entre as ciências exatas e as humanidades, ao transformar as formas de seu interesse de estudos em problemas computacionais.

O terreno epistemológico do mundo de Leibnitz, devemos lembrar: o monismo[3], que pretendia unificar os sistemas de representação do mundo por intermédio de um único conjunto expressões (LEIBNIZ, 2009), ofereceu um motivo para um novo avanço teológico. O projeto leibniziano, de uma characteristica universalis, de um calculo rationator, está na base da construção de uma lógica e uma linguagem formal universais. Esta linguagem deveria ser reinterpretável, completamente neutra quanto aos conteúdos e aos estados subjetivos. No final do século XIX, Gottlob Frege, e, mais tarde, o matemático inglês Alan Turing, tornaria a máquina universal a derradeira ferramenta epistemológica, aquela que viabilizaria a simulação e a complexidade. A máquina de Turing[4] provaria que é possível não apenas automatizar qualquer cálculo de algoritmos computáveis e transforma-lo em um código, mas, para além disso, que seria possível inserir os códigos derivados destas máquinas e executá-los em uma outra máquina de Turing, criando assim uma máquina de execução de outras máquinas – uma meta-máquina, que inauguraria a hoje clássica divisão entre hardware e software (LEAVITT, 2007). O ponto a ser destacado é que a máquina de Turing comporta-se como um leitor universal, ou seja, muda sua funcionalidade conforme o código que opera. Se podemos esperar que um texto tenha diferentes exegeses para cada leitor humano (REMOR, 2006), na máquina de Turing existe a leitura objetiva de códigos, além da esperança de que estes produzam sempre os mesmo resultados. Se a máquina antes estava confinada a sua própria identidade enquanto função, após Turing, ela ganhou novas virtudes - no sentido atribuído a palavra latina virtus – como potência em tornar-se outras máquinas, executando a leitura de outros códigos.

Os computadores digitais e a decorrente vulgarização do poder computacional nas últimas décadas permitiram, além das aplicações baseadas no cálculo diferencial integral, uma exponencial paralelização de cálculos matemáticos e algoritmos, algo impensável nas operações das antigas máquinas de cálculo, como as máquinas que decifravam códigos nazistas - empreendimento inicial de Turing, ou as máquinas que caracterizaram a revolução industrial. Esta paralelização de múltiplos processos computacionais permitiu a investigação de uma nova classe de fenômenos, impossíveis de serem estudados anteriormente, devido à ausência de uma ferramenta compatível.

O novo poder computacional banalizado, ofereceu aos pesquisadores a possibilidade de simulação de processos novos, seja a execução exaustiva de funções matemáticas não lineares, ou a execução de processos paralelos de colaboração e competição. O resultado deste tipo novo de experimento, resultava frequentemente na eclosão de novos comportamentos coletivos, o aparecimento de padrões que pareciam encontrar estabilidade vindos da interação entre uma miríade de cálculos não lineares, como nos sistemas que envolvem a teoria do caos[5]. Esta nova classe de experimentos e pesquisas agrupou-se sob o signo de teoria da complexidade e, nas últimas duas décadas, encontrou uma estrutura de conceitos comuns, alcançando assim o estatuto de uma disciplina científica.

A ciência da complexidade tem sido usada, desde então, para fornecer um campo teórico para disciplinas como a física, na simulação da dinâmica de partículas; na biologia, para estudo dos modelos evolutivos; nas ciências humanas e no meio ambiente, dentre outras. Os sistemas complexos, conforme a perspectiva de (1997), oferecem propriedades comuns universais para abordagem de diferentes problemas, ou seja, uma estrutura comum no tratamento de questões epistemológicas diferentes. Estas estruturas poderiam ser resumidas nos seguintes componentes:

l Elementos: ou sejam, as unidades elementares a que o sistema se refere de forma a encontrar propriedades. A idéia de um elemento fundamental depende de um contexto epistemológico que pode ser mudado conforme a simulação a ser produzida, porém, uma vez estabelecidas estas propriedades, elas oferecem ao elemento uma identidade.
l Interações: a forma e a intensidade a que os elementos interagem entre si e outros subsistemas do campo abordado. Neste caso também uma relação é situada, quer dizer, uma propriedade fundamental que forma uma identidade.
l Diversidade: dadas as proposições iniciais, ou, as identidades que fundamentam as propriedades dos elementos dos sistemas, a variabilidade destas propriedades podem ser expressadas dentro de certos limites, dado seu contexto epistemológico.
l Ambiente: trata-se do campo lógico ou topológico no qual os elementos dos sistemas estarão situados e onde ocorrerão suas interações.
l Atividades: trata-se dos objetivos que os elementos ou o sistema como um todo podem operar em termos de competição e colaboração.

A relação entre os elementos e o todo é fundamental na compreensão dos sistemas complexos. Desta relação, advém um conceito fundamental da abordagem: a idéia de emergência, que pressupõe que eventos surjam da interação entre os elementos do sistema de forma que a sua descrição exige a introdução de novas propriedades, diferentes daquelas instanciadas pelos elementos. Nos sistemas complexos, emergem comportamentos coletivos, advindos da intensa computação de processos paralelos e não-lineares, com propriedades que precisam de novas categorias para serem entendidos, além daquelas usadas no entendimento de seus elementos. Por conseguinte, a complexidade do sistema não é apenas horizontal, mas também vertical, no sentido de que, em diferentes planos de descrição, diferentes elementos e propriedades são agenciadas.

ressalta ainda que a emergência pode ser local ou global. Local quando a interação ente os elementos resulta em novas propriedades no sistema, por exemplo, o comportamento de partículas que tem propriedades tais como velocidade e posição que, ao interagirem, emergem propriedades coletivas como temperatura e pressão, como os gases estudados na física de partículas e na termodinâmica. A emergência local produz propriedades não complexas, em que podemos descrevê-las uniformemente. As emergências globais, no entanto, oferecem propriedades que não podem ser facilmente isoladas e se comportam de forma complexa em relação ao sistema como um todo.
Um dos exemplos de emergências globais são as formas de tratamento da memória que são operadas pelo sistema nervoso das criaturas vivas. A memória, enquanto emergência da interação entre neurônios, não pode ser separada facilmente como uma propriedade isolada do conjunto de neurônios. Ela precisa novamente da interação dos elementos para a recuperação de sua propriedade emergente. Está, portanto, distribuída; isso implica não ter uma identidade facilmente recuperável senão por sua própria emergência. A interação entre seus elementos é complexa, pois a alteração em sua relação entre seus elementos influencia no padrão formado coletivamente e vice versa, ou seja, o efeito emergente altera a relação entre os elementos do sistema.

A ciência da complexidade dá ênfase aos sistemas que produzem emergências globais, pois estas exigem, ainda segundo , um esforço de compreensão maior entre o todo e as partes, assim como um esforço epistemológico mais contextualizado, no qual as relações macroscópicas e microscópicas devem ser elaboradas, por exemplo: quais as propriedades devem ser incluídas no modelo em relação aos elementos do sistema e quais propriedades são esperadas em um nível macroscópico. Isso implica em pensar constantemente na pergunta: quais escalas de tempo e espaço devem ser adotadas no tratamento do sistema?

Estas dicotomias encontram uma ressonância epistemológica em diversas disciplinas, como a relação entre indivíduos e sociedade encontrada na sociologia; sujeito e cultura, na antropologia; gene e espécie, na biologia; moléculas e substâncias, na química; partículas e fluidos, na física. Por isso, a ciência da complexidade pode oferecer um quadro teórico unificado para tratar destes assuntos, uma vez que sua prática, desde seu início, foi fundamentada na execução recursiva de funções não lineares, ou na interação exaustiva de processos computacionais em paralelo, principalmente onde o aparecimento de fenômenos emergentes, muitas vezes caóticos, não lineares ou imprevisíveis, parecem ser a tônica da discussão teórica e não simplesmente um evento que deve ser tratado como uma exceção e que não implicam uma ruptura teórica[6].

Nas ciências humanas e do meio ambiente, por exemplo, a complexidade tem sido conjugada com a abordagem de múltiplos agentes de software, vinda da inteligência artificial. Estas técnicas permitem simular interações entre múltiplos sistemas de forma a obter resultados por simulação[7], conforme as pesquisas de Edmonds (1999), Glesser (1999) e Gilbert (1995) que passam a entender as instituições sociais como efeitos emergentes da interação entre os indivíduos e sociedade[8]. Estas abordagens têm oferecido não somente um campo de aplicação para estas disciplinas, mas também uma forma de epistemologia em que o conceito de cientificidade de um modelo passa por sua capacidade de representação por simulação (EPSTEIN, J. M. e AXTELL, R, 1996), em outras palavras, a pergunta sobre uma verdade lógica sobre um modelo passa a ter consistência epistemológica em sua capacidade de ser simulada computacionalmente. É comum estes modelos terem uma abordagem cognitivo-evolucionista[9], o que não parece ser surpreendente, uma vez que o projeto darwinista de seleção natural lida com categorias conceituais muito parecidas com as da complexidade, ou sejam, a idéia de interação entre indivíduos de uma espécie (os elementos), o comportamento enquanto coletividade (emergência), os processos de seleção, mutação e promoção (como variedade) etc.
A simulação como paradigma epistemológico, depois de ser aplicado em diversas disciplinas, e concluir seu resumo conceitual na ciência da complexidade, pôde ser abstraída em uma forma transdisciplinar Os objetos epistemológicos da nanotecnologia[10], da biologia, da informática e ciências cognitivas[11] foram reunidos em um mesmo problema computacional, quer dizer: a relação entre elementos, meio e estruturas coletivas de comportamento emergente. A ciência da complexidade torna-se agora um movimento mais amplo: a convergência NBIC[12]. A convergência digital que consiste, segundo Negroponte (97), na transformação de átomos em bits e promove uma crise na industria de comunicação e entretenimento[13], passa a ser agora o principal modo de operação e formulação epistemológica, ou seja, torna-se uma convergência representacional - uma vez que o instrumento de produção, manipulação e distribuição do saber não são mais os computadores, nem a imensa rede que os conecta, mas a virtualização da máquina de Turing, o ciberespaço enquanto metamáquina virtual universal. Todavia, esta metamáquina virtual pressupõe uma metalinguagem formal universal, uma characteristica universalis, capaz de carregar e expressar todas as linguagens naturais e históricas, subsumindo em si toda a significância, a tal ponto em que desparece a necessidade da referência ao real, pois tudo se dá nas operações metalinguísticas da metamáquina que, como um ratiotinator universalis, dispensa-nos do pensamento.

Discursos sobre o desenvolvimento sustentável


O desenvolvimentismo sustentável pode ser definido, de maneira geral, como sendo um movimento de administração das formas produtivas, no sentido de compatibilizá-las com a preservação dos recursos naturais (MONTIBELER-FILHO, 2001). A discursividade sobre o desenvolvimento sustentável tem-se distribuído, no entanto, por diferentes matizes ideológicos; seja pela via da economia ambiental, a economia ecológica ou eco-marxismo (IDEM). Na economia ambiental, por exemplo, ocorre a atribuição de um valor monetário aos componentes do meio ambiente; a questão que lhe cabe é: como precificar a natureza? Este discurso pressupõe que exista uma forma de representação (no caso o capital) que possa, mesmo de forma contingente, atribuir um meio de equivalência entre a natureza e a cultura e, por conseguinte, o advento de uma forma de consequência irracional, uma catástrofe, é atribuído a uma externalidade, ou seja, ao real que não pode ser incluído no sistema de precificação.

A economia ecológica, por sua vez, como explica Montibeler-Filho, tem uma preocupação em conter a entropia dos componentes envolvidos na produção de riquezas, considerando a reciclagem e a diminuição da energia na produção como fatores capazes de responder e balancear a natureza que é vista como um sistema. A externalidade se conjuga ao conceito de entropia – a tendência à desorganização de um sistema, conforme a concepção cibernética de Wienner (1973). O eco-marxismo, por seu turno, entende a produção de externalidades como uma consequência do processo de mais valia, próprio do capitalismo, que apresentaria contradições internas em seu processo de acumulação de riquezas. O ponto que gostaríamos de destacar é a idéia de que a natureza seja um sistema passível de administração, na condição de haver um correlato da idéia moderna presente nestes três discursos. A diferença lógica entre eles é o como concebem o conceito de externalidade, que pode se apresentar de formas diferentes, mas que, não obstante, são passíveis de representação, da forma que seguem um modelo energético de sistema, compatível com a máquina moderna.

Como vimos, na seção anterior, a idéia central da máquina moderna é a de que: primeiro – o mundo seja matematizável; segundo – seja possível concebê-lo feito da mesma substância, ou, fazer com que seja operacionalizável seguindo as regras gramaticais. O custo para isto é o conceito de entropia: a tendência à desorganização contínua do universo (BAUDRILLARD, 1999). O conceito de externalidade, nos discursos da sustentabilidade em seus diversos matizes, é correlato ao conceito de entropia, em sua ação de identificar os elementos que sobram da operação simbólica de matematização e operação do real.

Ao criar um cosmos, com os instrumentos universais da modernidade advindos do cálculo, criamos também uma externalidade, ou seja, um elemento de irracionalidade que se contrapõe às forças de conservação. Dado que a civilização, na modernidade, adotou o modelo energético de representação, seu correlato é a forma de externalidade como entropia. A natureza, então, seria representada justamente por sua entropia, ou sua capacidade de gerar externalidades, conforme os modelos de sustentabilidade, em seus variados nuances. Brugger (2009) suspeita do termo desenvolvimento sustentável no sentido de representar um eufemismo apropriado pelo mundo corporativo para poder realizar mais do mesmo, apropriando-se de praticas ecologicamente corretas que colocariam uma maquiagem verde em suas práticas ambientais, livrando o capital de suas contradições. Brugger acredita que exista uma outra forma de apropriação ética nas formas de representação da natureza, que possa ser mais compatível com a idéia de um futuro em comum – e é esta possibilidade, precisamente, política e ética, que a máquina contemporânea faz-se neutralizar.

Na discursividade da ecologia política ou da antropolítica, como preferem autores como Edgar Morin (2009), acredita-se na possibilidade de distribuição de poder político com base no conceito de auto-eco-organização e a análise das inter-relações entre unidades política e meio-ambiente. Estas seriam alternativas no tratamento de questões ambientais. Para tanto, a ecologia política pressupõe a criação de instituições globais voltadas para educação e cidadania que considerem, entre outros aspectos, a complexidade dos aspectos das interações humanas, sua inserção em diversos âmbitos e o enfrentamento de questões tais como as relações entre ética ambiental e política. O jogo da complexidade consistiria, neste ponto de vista, em tornar decisões éticas e políticas em jogos computacionais equivalentes aos jogos do meio ambiente e do capital, em sua propensão para sistemas universalizantes.

A máquina de Turing, como exponenciação do universalismo da máquina moderna, abriu um novo caminho no jogo maquínico de representação do universo. Com a universalização de uma máquina que conjuga outras máquinas, o jogo da entropia e da externalidade, que caracterizava a máquina moderna e seu modelo energético, é transfigurado para uma máquina puramente simbólica e estruturalista, no sentido de elevar a informação à condição de elemento universal, ou como átomo da linguagem, um mônada no sentido leibniziano, que encontra na linguagem binária a substância final de representação. É importante salientar que esta nova máquina não tem externalidades, nem entropia, uma vez que não pretende preservar os sentidos de suas relações internas – já que foi radicalmente abstraída em sua estruturalidade entre zeros e uns. A informação na linguagem binária tem uma pretensão de neutralidade capaz de abstrair todas as máquinas e, por isso, relacionar todas as funcionalidades, mesmo as exceções, em um jogo holístico, homólogo, monotônico, em que não há exterior que não possa ser incluído em um sistema de exceção familiar (BAUDRILLARD, 1976). Dito conforme o jargão da nova lógica: a metalinguagem contém dentro de si a linguagem objeto.

A máquina moderna afirmava um real sem sentido e irracional, e anunciava um desastre como a vingança das externalidades, promovendo a esperança de que, se encontrássemos todos os elementos exteriores e os conjugássemos em nosso modelo, então o meio ambiente seria administrável; caso não fosse, se houvesse o desastre, então haveria ainda a esperança de que nossas ferramentas tivessem sido apenas mal utilizadas e que precisaríamos de apenas mais do mesmo: mais pesquisas, mais dinheiro, mais progresso; em outras palavras, que um reordenamento político em nossas prioridades seria o ajuste necessário para a vitória. A máquina moderna, pela via do sentido, não obstante, era uma máquina a favor do discurso político e foi através dela que floresceram os discursos sobre a sustentabilidade . Na verdade, a política moderna, no seu ideal de estado, não era senão a reiteração transfigurada do modelo maquínico.

A ciência da complexidade, derivada do uso intensivo da máquina formal-virtual contemporânea e de seu modelo epistemológico está associada a esta ausência de externalidade, a falta deste Outro radical. A máquina contemporânea, em seu novo universal estruturalista, opera o mundo de forma a não precisar do sentido como atribuição do seu modelo, o efeito emergente. Como uma deriva de sua própria estruturalidade, tem um efeito parecido com o imprevisível do modelo moderno, ou seja, o real, com a diferença que seu aparecimento é uma possibilidade, quer dizer, encontra-se latente como potência do próprio modelo (DELEUZE, 1998). O efeito emergente, na ciência da complexidade, é um resultado do possível, no sentido deleuziano do termo, ou seja, do resultado de uma combinatória entre os elementos dados na realidade e, portanto, passíveis de uma identidade e uma diagramação. O efeito que se contrapõe ao possível e provoca a elaboração de novos conceitos, para Deleuze, é a diferença e o plano de imanência que problematiza os sistemas classificatórios universais, produzindo novas virtualidades (DELEUZE e GUATTARI, 1976).

O efeito de emergência, na complexidade, é uma surpresa possível, derivada das potencialidades do próprio jogo de estruturas que compõe o modelo computacional. Esta emergência, como componente epistemológico, no entanto, não atribuí um sentido, nem existencial nem político, ao teor de suas mutações, mas tão somente um sentido vetorial-administrativo de que, se pudermos incluir a todos no jogo computacional – seja a natureza, o homem e a própria política – transformaremos as catástrofes em exceções compreendidas de dentro de nosso jogo lingüístico, apreensíveis como funções isomorfas reiteráveis de um X a um Y vazios. Aqui encontramos o que Baudrillard (1976) chama de hiper-realidade, e seu correlato, o simulacro, que tem o efeito de realidade, com transparência total, em que nada na realidade se excluí do jogo de codificações. Todavia, enquanto na simulação moderna os efeitos de cálculo eram tidos como ficção regulativa, pois o que valia era a experiência efetiva e causal, o simulacro contemporâneo substitui o real e toma o seu lugar.

No cerne do debate sobre a natureza e a preservação do meio ambiente está um problema já considerado na tragédia grega, qual seja, o da ação trágica, isto é, o problema dos atos humanos que têm pressuposições e conseqüências que vão além da consciência e do controle do agente, sobretudo, que acarretam destruição, sofrimento e morte de modo imprevisível e indeterminado. Como nos alerta Baumman (2008), o jogo da máquina contemporânea está justamente em assemelhar a catástrofe, e sua relação com a natureza, a uma moralidade, quer dizer: uma estruturalidade.

A mudança principal está no estatuto da catástrofe. A máquina moderna prometia a vitória da razão e da direção política como esperança de sua operação contra as forças da irracionalidade: a entropia e a externalidade. A máquina contemporânea apaga o real da catástrofe ao transformá-la em um advento simbólico e computável, apenas mais um nexo no plexo de remissões internas da metamáquina, nexo esse que não tem sentido no plano das operações humanas, pois emerge por sobre sua consciência e controle, estando mais para um erro de administração do que uma força externa, que demanda um aprimoramento do estatuto político de nossas organizações. A natureza, desta forma, perde seu estatuto de irrepresentável (de real) e, em última instância, torna-se equivalente a qualquer processo computacional. Em suma, o natural é substituído pelos nexos e efeitos computáveis, sendo apreendida apenas como um plexo de nexos entre variáveis sem-sentido humano. mesmo modo, as nossas decisões e escolhas, à medida que estão fundadas no poder das máquinas, também estão fora de nosso controle político. A ciência analítica (das forças da matéria, da química da vida, etc.), as máquinas cibernéticas (computadores, robôs) e as telecomunicações e redes de informação (como é o caso das bolsas de valores) modificaram completamente as relações dos indivíduos entre si, consigo mesmos e com o entorno, ao serem pelo mesmo possível, pelos mesmos pressupostos maquínicos.

Ao aceitarmos a lógica da sustentabilidade, que pressupõe a apreensão das variáveis de um ambiente em uma linguagem universal que permitiria o cômputo dos benefícios e malefícios, enfim, que permitiria fazer as continhas do mais e do menos, aceitamos os termos da codificação para todo o campo humano da experiência com uma exterioridade. Os discursos que operam o desenvolvimento sustentável não estão além do grande metadiscurso maquínico do nosso tempo, do simulacro, pois não conseguem mais criticar a máquina que fabricamos, justamente porque esta não crê mais na externalidade, no real; pois está ancorada em um novo universal que não precisa mais explicar o mundo pela via do sentido, como nos tempos modernos, mas opera o mundo por meio de sua estruturalidade radical que incluí justamente o não sentido como parte de seus atributos - as catástrofes artificiais e as naturais passam a ter o mesmo teor simbólico, como falhas nos cálculos e que poderiam, idealmente falando, ser evitadas dado um esforço moral.

Essa condição epistêmica e prática erege uma nova forma de sedução: que nos induz justamente a fazer mais do mesmo, a nos reiterar – por meio de uma nova máquina instrumental e epistêmica, que nos oferece a certeza da potência de nossas formas de representação. O discurso do desenvolvimento sustentável é o discurso da validade da forma de vida industrial, de produção e consumo. Em outras palavras, não haveria outro mundo senão o ocidental, não haveria outro deus senão o cristão, aquele que no dia do juízo final faz o balanço de caixa de nossa existência, mesmo que suas formas sejam as mais variadas e seus sentidos os mais diversos, não existiriam mais instrumentos do pensamento que não atualizasse a cosmovisão atual. Esta impostura, puramente imaginária, no entanto, apenas ataria nossas mãos políticas, uma vez que, sentindo na eliminação dos corpos os teores das novas catástrofes, perderíamos a possibilidade crítica de ações.

Notemos que o esforço pela convergência digital, pelo NBIC, está para além de um avanço tecnológico, é uma prioridade da civilização ocidental em transformar as questões humanas em uma ordem simbólica efetiva, sem que nada disso escape, mesmo que para alcançar tamanha façanha tenhamos que abdicar do sentido como forma privilegiada de ordenamento do mundo, para adentrarmos no terreno da pura reversibilidade e sua forma de operacionalização mais radical: a virtualização e universalização da máquina de Turing.

O imperativo subjacente é translúcido como as palavras da melíflua língua de Lúcifer: não há mais saber sem computabilidade, da mesma forma que não há mais política sem a representação cristã escondida em cada bit de código, isto é, não há mais ação humana sem a prévia antevisão do cálculo do juízo final. Pois não foi isso o que tentou Cristo no deserto, a convertibilidade total, a negociabilidade total? Não é isso o que prometem o mercado, a informação e o sistema jurídico e monetário atuais, a convertibilidade de tudo em moeda e penas? Não é esse o esquematismo da máquina do mundo atual, o esquema da equivalência universal, logo, da indiferença das diferenças? Ora, a idéia do desenvolvimento sustentável e do uso ecologicamente correto dos recursos naturais, de antemão, já introduz a calculabilidade e a convertibilidade de tudo o que há, ao mesmo tempo que esconde o objetivo de preservar a forma de vida atual. Por isso, não pode haver, em nosso tempo, nenhuma gestão ambiental que subsista sem a elaboração de cálculos sobre uma precessão de modelos que contabilizam os ganhos e as perdas. O que se mostra é que estas formas de estar e agir no mundo implicam uma concepção de si e de natureza muito restrita, herdeira de dois mil e quinhentos anos dos nossos melhores esforços para esconder o desencaixe do mundo e o desatino do eu. No cerne dessas desrelações está aquilo mesmo de que não conseguimos nos livrar, em nossa ágora como a delirante fantasia cristã de que o mundo seja um atributo do espírito, a saber, a crença de que podemos e devemos eleva-lo cada vez mais em sua glória e torna-lo perfeito aos olhos do Senhor, ao dizê-lo e manipulá-lo, nós também, com uma língua pura do simulacro – daquela com que ele primeiramente disse "Faça-se a luz". Amém!


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Autores:


Benjamin Luiz Franklin belfra@gmail.com
Consultor em Inteligência Computacional. Mestre em Engenharia de Sistemas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, Especialista em Psicanálise pela Universidade Estácio de Sá e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – UFSC.
Celso R. Braida crbraida@gmail.com
É professor de Filosofia na Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis; graduado em Filosofia na FIC (1987), mestrado em Filosofia na UFRG (1992) e doutorado em Filosofia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2001). Publica e pesquisa nas áreas de ontologia, filosofia da linguagem e hermenêutica.

Carlos Augusto Remor remor@matrix.com.br
Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC (2002). É Professor e Chefe do Departamento de Psicologia da UFSC; Psicanalista Freudo-lacaniano; Fundador (1984) e Presidente da Maiêutica Florianópolis - Instituição Psicanalítica.

Mylene Queiroz myleneq@gmail.com
Mestranda do curso de Teoria da Tradução da UFSC. Possui graduação em Ciencias Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999). Trabalhou como Medical Interpreter para o Brockton Hospital, Massachusetts/EUA e como representante do Women´s Health Network, um programa do departamento de saúde pública de Massachusetts.

[1] Empregamos a palavra consiliência, usada por Wilson (1999) para indicar a aproximação epistemológica entre várias ciências. Na visão de Wilson, as ciências devem proceder uma unificação em todos os níveis paradigmáticos, incluindo as ciências humanas, para que possa ser formada uma unidade do conhecimento, encontrando na biologia o paradigma comum entre as ciências duras e as humanidades.
[2] A matematização do real é o ato seguinte a invenção Cartesiana: a criação do sujeito da ciência, que possibilita a descrição do mundo sem as características de um sujeito pessoal, como nos ensina Milner: [...] este sujeito, constituído segundo a determinação característica da ciência, é o sujeito da ciência [...]. Não lhe convirão às marcas qualitativas da individualidade empírica, seja ela psíquica ou somática: tampouco lhe convirão as propriedades qualitativas de uma alma: ele não é mortal nem imortal, puro nem impuro, justo nem injusto, pecador nem santo, condenado nem salvo, não lhe convirão nem mesmo as propriedades formais que durante muito tempo havíamos imaginado constitutivas da subjetividade como tal: ele não tem nem Si, nem reflexividade, nem consciência. (MILNER 1996, p.33). A invenção do sujeito da ciência desloca, com a matematização do real, o conceito de Deus, como aquele que revelado expressa a verdade, para um deus proletário, nas palavras de Cabas, que garante a determinação do universo como uma entidade lógica que pode ser compreendida matematicamente pelos homens. Desta forma passa a existir um mundo compreensível que tem um deus como garantia lógica, mas que deixa de ser revelado pela palavra sagrada, baseada na tradição.
[3] Leibniz publicou sua filosofia em vários trabalhos. 'Reflexões sobre Conhecimento, Verdade, e Idéias' definiu sua teoria do conhecimento. Em 'Na Origem Última das Coisas' ele tentou provar que só Deus poderia ser a fonte de todas as coisas. 'Theodicy', o único trabalho principal publicado em vida, explicou as suas idéias a respeito da justiça divina. 'Monadology', escrito dois anos antes da sua morte, detalha a teoria de mônadas que ele concebeu a respeito do modo pelo qual simples substâncias espirituais formaram a base para todas as formas compostas de realidade. A teoria de mônadas, um termo derivado do grego, significando "aquilo que é um" ou "unidade" é elaborada em 'Monadology'. A teoria tenta descrever um universo harmonioso composto de um número infinito de mônadas, ou unidades, organizadas em uma hierarquia e originadas no Mônada Supremo que é Deus. O Monismo teve suas raizes na filosofia da Grécia antiga e foi continuado por pensadores eminentes como Emmanuel Kant, Edmund Husserl, e Alfred North Whitehead.
[4] A máquina de Turing é um modelo abstrato de um computador que se restringe apenas aos aspectos lógicos do seu funcionamento (memória, estados e transições) e não à sua implementação física. Em uma máquina de Turing pode-se modelar qualquer computador digital. Mais informações sobre a máquina de Turing: http://en.wikipedia.org/wiki/Turing_machine
[5] A Teoria do Caos para a física e a matemática é a hipótese que explica o funcionamento de sistemas dinâmicos. Em sistemas dinâmicos complexos, determinados resultados podem ser "instáveis" no que diz respeito à evolução temporal como função de seus parâmetros e variáveis. Isso significa que certos resultados determinados são causados pela ação e a interação de elementos de forma praticamente aleatória. Para entender o que isso significa, basta pegar um exemplo na natureza, onde esses sistemas são comuns. A formação de uma nuvem no céu, por exemplo, pode ser desencadeada e se desenvolver com base em centenas de fatores que podem ser o calor, o frio, a evaporação da água, os ventos, o clima, condições do Sol, os eventos sobre a superfície e inúmeros outros. cf.http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_caos
[6] Os sistemas ditos complicados, conforme Cilliers (1998), aqueles que não produzem emergências, tratam o aleatório, as rupturas em suas seqüências e suas exceções, como erros que não alteram sua cadeia de procedimentos. Os subsistemas que compõem o sistema não modificam suas relações internas como uma resposta a uma nova propriedade coletiva. Os sistemas complicados não alteram sua dinâmica interna devido a uma nova propriedade coletiva.
[7] Uma simulação que envolve um diálogo entre conceitos vistos nas ciências sociais e na inteligência artificial pode ser encontrada em um trabalho anterior, no seguinte endereço:http://geocities.com/belfra2000/
[8] Para maiores informações sobre o assunto consultar o jornal de sociedades artificiais e simulação social em: http://jasss.soc.surrey.ac.uk/
[9] Um dos exemplos pioneiros deste tipo de abordagem é o projeto swarm, que se utiliza do paradigma evolucionista de reprodução, mutação e seleção para simular a dinâmica de sistemas complexos cf. http://www.swarm.org
[10] Nonotecnologia – Nanociência e nanotecnologia estudam e trabalham com a matéria em escala ultra-pequena Um nanômetro consiste em um milionésimo de milímetro. Mais informações em: http://royalsociety.org/glossary.asp#n
[11] Algumas linhas das ciências cognitivas, principalmente a psicologia evolucionista com Pinker (1998), tem caminhado para uma estrutura informacional da mente, tendo como metáfora do cérebro um computador desenhado pela seleção natural para ampliar as possibilidades de sucesso no jogo da seleção natural. Autores como Edelman, Metzinger e Damásio (apud Souza et ali, 2007) consideram, por sua vez, o conceito de “eu” como uma emergência de diversos processos biológicos de seres complexos. O ponto que gostaríamos de destacar é o do uso de categorias epistemológicas da complexidade e, por conseguinte, a transformação de problematizações do conceito de “mente” e “eu” para uma formalização de problemas computacionais, assim como as questões da biologia e informática.
[12] NBIC, segundo a Wikipedia: an acronym standing for Nanotechnology, Biotechnology, Information technology and Cognitive science, is currently the most popular term for emerging and converging technologies, and was introduced into public discourse through the publication of Converging Technologies for Improving Human Performance, a report sponsored in part by the U.S. National Science Foundation. cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Emerging_technologies
[13] Referimo-nos a atual crise da industria de entretenimento com a digitalização dos bens culturais e sua distribuição via redes ponto à ponto. Analisamos com mais detalhes esse assunto em um trabalho anterior que pode ser encontrado em: http://www.cibersociedad.net/congres2006/gts/comunicacio.php?id=633&llengua=ga

Media in crisis: contemporaneity and the metanarrative machine

http://aric.edugraf.ufsc.br/congrio/html/anais/anais.htm

Benjamin Luiz Franklin Ms-IPT
Carlos Augusto Remor Dr-UFSC
Tarcisio Vanzin Dr-UFSC
Gregório J. V. Rados Phd - Loughborough University



Tradução: Mylene Queiroz.




Abstract:


This paper has two objectives. The first is to attempt to situate a scenario, which clarifies a media crisis, in which digital convergence presents a threatening paradigmatic exchange for the current entertainment and communication business models. The second objective is to suggest that this crisis is not the result of a technological change, but results from a logical change in forms of subjectification within modernity. Our attempt to outline this crisis is based on the understanding of the machine concept in contemporary society, in which the transition among machinic logic set the limits of a change over what psychoanalysis defines as a “non-sexual relationship”. We conclude this work with a criticism of the idea of digital convergence, privileging the concept of simulacrum. This concepts points to a broader movement of epistemic convergence, a new metanarrative, abstained from sense production in favor of the code fascination regime, as pure versatility.
Key words: media, digital convergence, forms of subjectification

Introduction:

The term digital convergence has been broadly used to describe the migration or integration process of existing technologies to a digital mold compatible with internet protocols and patterns. In his book, Digital Being (1996), Negroponte defines “digital convergence” as a conversion of atoms into bits. He draws attention to a contradiction in the creation of the business model constructed by the 20th Century communication and entertainment industry, in which information is much more important than the media that supports it. This industry model was erected based on the material sales of its immaterial products. Consequently, it is suffering from the breakdown of its monopoly - in the distribution or consumption of its merchandises and services, specifically because they have been attaching information to the media that supports it.

It is important to remember that the phonographic industry, represented by RIAA, (Recording Industry Association of America) claimed an annual loss of more than 10% of CD sales, blaming the peer-to-peer internet file sharing – which has tripled in users every year (OBERHOLZER & STRUMPF, 2006). VOIP (voice over internet protocol), enables phone calls via internet and has become a tendency in the telecommunication industry[1]. Concerning audiovisual production, YouTube has produced more audiovisual hours in a period of six months than what the three most important American entertainment networks had produced altogether in a period of 50 years (WESCH, 2009).
This paper intends to discuss these “tendencies” toward digital convergence. Foregoing an attempt to understand the technological changes that threaten traditional media and communication sectors, we will attempt to understand what forces are operating these changes so that they occur as a set of “tendencies”. The force which precedes technology and which we wish to draw attention to is related to Negroponte’s definition, pointing to a modern existence of an atomist world: the idea of equivalence between an indivisible entity that can be represented as another indivisible unity. Atoms and bits could be converged, submitted to an equation, and hence orchestrated in a way, which creates a complete set of equivalences, as an ideal language, as if there weren’t any loss in this movement.
The machine concept in modernity can serve as an attempt to understand the initiative - of conquering an ideal language - that, however, presents the following paradox: if on the one hand there seems to be a reduction of the great narratives, on the other hand it seems that a new form of unity is appearing. The machine concept can be illuminating in the investigation of what we could call – and we will see in what conditions we may do so – the new imaginary meta-narrative in the contemporary, which finds in the digital convergence one of its greatest emblematic movements.


The concept of machine


The concept of machine that we seek may be articulated with the concept of repetition. The path that we are proposing to cross is committed with Deleuze’s view that essentially a repetition of the same does not exist; and that repetition always points out the existence of a difference – meaning that thought can problematize the ideal representation of identity (DELEUZE, 1998). Initially this opinion may appear contradictory, since it seems that repetition is everywhere and that it seems to encompass an order. From this point of view, knowledge would consist in discovering this chain of repetition.
We do not intend to force a disassociation between the possibility of repetition and the possibility of representation. Our first task is to understand the process that enables the effects of repetition, or as Deleuze and Guattari explain, thought implies making it so that universals are explained (DELEUZE & GUATTARI, 1992). Given an unrepeatable universe, how can we obtain an illusion of the repetition of the Same[2] the semblance so that we can apply a function of identity where A=A? According to Lacan, the identity affirmation type A=A occurs only in the semantic field, in the verb to be coupling (REMOR, 2007) – wherein we could make use of logical couplings, or mechanisms of interference through which we can relate entities of a domain. Lacan affirms that A is not equal to A. In other words, in his aphorism, there is no sexual relation, the identity or the verb to be coupling is imaginary; there isn’t an independent form of a subject that announces this identity. Lacan’s and Deleuze’s opinions converge at this point – there are no essentialisms, in a critical posture in relation to Platonism and Structuralism[3].
Lacan articulates the main concept of psychoanalysis using three registries of human reality: real, imaginary, and symbolic. These three “registries” cannot be disassociated, and they allow Lacan to locate concepts in a way, which provokes new forms of articulations and new approaches to Freudian inquiries. In summary, we can comprehend the registry of the real as a failure of representation modes, pointing to a repetition of that which “wavers”. Rather, it is the return of a failure, of the impossible, or the repetition of a difference; a revisit of the nonsense that becomes traumatic due to its resistance to forms of nomination. The real would be that which always returns to the same place. However, the same place is a failure in the proposition of sense. We can think that there is no repetition of the Same in the Real, being that there isn’t any possibility of repetition in the Real - to the degree that there is no coupling of the to be verb at all, or is there a law that organizes it (FREIE, 1997).
For Lacan, the repetition of the Same, as identity, by the means proposed in the logical coupling of the to be verb, occurs only in a semantic sense. The symbolic registry would be this language-ordering dimension, which precedes the speaker and subjects him to an adjustment, allowing language to speak through the living being. It is the symbolic order that would acquire the body, once the body is subjected to this structure. The subjectivity process would be linked, according to Lacan, to the process of culture entrance by the use of language and its symbolic structure. In summary, it is linked to the effort to make the speaker subordinate to a preexisting logical field (LACAN, 1993).
Nevertheless, the repetition of the Same would also privilege the registry of the imaginary. If an ordainment of pure difference occurs in the structure of the symbolic, the identity of these elements with sense and signification occurs in the imaginary. The imaginary has a Narcissist dimension, in which the speaker gives a unitary meaning to his/her form – a similarity, a duality, and autonomy (REMOR, 2007).
For the purpose of this work, repetition is associated to the machine concept as an operation of identity and sense, rather as an imaginary sexual relationship given by the logical coupling of the to be verb, as a return to a unitary and similar Same, excluding the Real registry – even if also in an imaginary way. It is important to highlight that Lacan describes the real as also being what “doesn't cease not to inscribe itself.”
If the concept of the Real, as a registry situated away from meaning, sense, and identity, does not tolerate the repetition of the Same, neither does it tolerate the concept of Machine that we are seeking here due to fact that it’s related with identity. Lacan resorts to a dream to highlight the exclusion of the Real in Freud’s Interpretation of Dreams (1976). A father dreamed that his child was standing by his bed, clasping his arm and crying reproachfully, 'Father, don't you see that I am burning?' Soon he wakes up. After, at the wake, there is the boy’s funeral and the crepitating flames burning the coffin. Lacan’s interpretation emphasizes the awakening; not in the reality perceived by the exterior noises, but in the reality of the message: 'Father, don't you see that I am burning?'
For Lacan, given the emergence of senselessness in the son’s death, the father attends a message that points out his responsibility in the Imaginary registry. The father wakes from a traumatic encounter with the nonsense in the dream, to assume a sense in the vigil, even if it is the one censured by the son. In other words, he wakes up from the real nonsense in order to remain asleep in reality, though it is a place of significance and grammar, but outside of the traumatic castration of the senseless (LACAN, 1993). .
Given the traumatic repetition of the radical difference in real, we escape to language reality and its forms of contention and paradigmatization of repetition in reality. In other words, we escape toward, and not from reality. The repetition of the same occurs in reality and encounters in the scripture a privileged form of ordainment to the degree that it has an effect upon interiority.
The machine has the effects of scripture in the sense of its achievement (to transfer to reality), like dreams – which Freud denominated as the realization of a desire. The machine applies a semantization of the world and hides the interiority of this structure in reality. However, the machine as a discourse does not need a defender as a text. This is due to the fact that it defends itself within its discursive logic, inside its mechanisms of imaginary sexual relationships. The machine operates in a structure as the scripture does, but it can operate readings. In other words, it can operate movements of meaning in its own interiority, since it changes the positions of its nodes and creates metonymic displacement without the presence of a subject, which is needed in scripture. The machine defends itself.
Modernity and Machine
In the ancient times, Greeks revealed their Gods through the holy word, and mathematics would seek ideal aesthetic relationships and establish a demand for conviction and for the rhetoric that occurred in the polis public sphere (VERNANT, 2003). In modern times, with the advent of the Christian neo-platonic forms, the truth became related to a unique and imponderable god – whose description merely distanced it in its Metaphysical Horror (KOLAKOWSKI, 1998). This new divine attribution made a new ambition possible, which placed truth as an attribution of men – since god could not be described but could guarantee in a transcendental and ineffable way that the secret codes of nature could be deciphered by reason. Milner (1996) explains that it was due to this new possibility that a new manner of describing the world could arise, anchored in the mathematization of the real and the creation of the subject of science (Descartes) - an impersonal subject without qualities who is able to describe the world through mathematical characters.
The Differential Engine proposed in the 17th Century by Newton and Leibniz supposes the existence of a world that obeys a transcendent law, a meta-language that can be described in mathematical terms – with the existence of a superior being that offers the guarantee of upholding such a law: a proletarian god (CABAS, 1997). This structural centrality, as well as the systemic functionality of the machine in modern times, logically responds to Foucault’s indications to what he called a disciplinary society. This disciplinary society results from the institutionalization and rationalization of disciplinary mechanisms in regulating social practices, which arose between the 18th and the 20th Centuries. Its emblematic control device was panopticon (FOUCAULT, 1997).
Panopticon is an architectural form that consists of a central tower, which is conscious of the actions within surrounding peripheral cells. These cells do not have a full view of the central tower or of the other cells in the system. The purpose is to “induce in the prisoners a conscious and permanent state of visibility which ensures the authoritarian function of power” (id., p.166). A disciplinary society inquires well-established control towers, which are able to support a symbolic cohesion to the power system – whether they are systems of controlling the production of material goods, as in industry, or the production of symbolic goods, as in the school and family. Telephonic, radio, and television industries are emblematic both in their technological patterns and in their business models – they are great panopticons. They are systems that need control centers and govern themselves in monopolies, creating discursive units and unifying and integrating views of the world. They are like giant differential engines that support themselves based on a consistent truth in an indeterminate subject.
Systematic thought, as a modality of modern scripture, which clearly establishes cause and effect relationships within a same circle, has reaffirmed its platonic heritage of primacy of idea over form, wherein there the spirit is prioritized over flesh. Rather, the good ideal form is projected as a creator and disciplinary project. If in the old machine the idea of technical reproduction was subordinated to the singularity of the real, as a return of the senselessness of the condition of difference (and thus its artesian aspect), in the modern machine its reproducibility is entire, given that its origin is preserved in the scriptural sphere, since the difference of forms in relation to its original project can be seen as inferior to its ideal project. The non-disciplined form through functionality of the spirit can be discarded and substituted without harming the universal functionality of the system. (LÉVY, 1998).
The continuous movement of this operation is the production of universals, which are infinitely integrated to a classificatory scheme of the spirit, in the constant separation and privilege between representation and its degraded forms in the flesh. The modern metaphysical sickle once more has separated the machine from its support. The distinction between Hardware and Software made by Turing in the 20th Century was an emblematic stroke of modernity – the creation of a machine that could emulate other machines once it could be fed with a project other appropriate scripture: the Software[4]. The Hardware, the universal reader of modern-day scriptures, complies with their role of minimizing the roar of real machines toward a utopia of systemic forms totally managed by reason.
Turing’s accomplishment concerning the statute of the Machine implies an understanding of Leibniz’s formulas, in the sense of the production of a radical alphabet within binary logic, where everything can be created from an absolute disjunction between presence and absence, zero and one (DELEUZE, 1991). If in the base of the binary alphabet there is a radical ontological separation, we can derive a series of combinational differences, which preserve the binary identities’ content. With the modern machine, we have created a dual ideal of nature. Rather, we have transformed nature into words in the machine. However, with Turing’s mechanization of Leibniz’s theology we have inaugurated the differential engine, the proto-machine of virtuality; wherein the separation between reader and scripture is finally abolished and an objectified reader in universal bases is created.


Contemporary Machines


The maturation of capitalism as explained by Bauman (2001) has not changed its logic of abstraction. On the contrary, it pointed out ever more efficient forms of abstraction. If in modernity the ontological cut was given by opposite pairs, with the exultation of this logic other cuts were made, new categories were created, and new ruptures have resulted in a new hyper-disciplinarity. It has occurred such that those opposites quit opposing each other, since they have become interchangeable and codified. Senseless, but permutable in the Leibnizian sense; without a center but virtual while exchanging a radical alphabet into its genetic difference, Deleuze named this new society ordainment the society of control (DELEUZE, 1996)
There are interconnected modules within the society of control, and without a central mechanism, they replace the panopticon. The idea of a system that challenges the notion of interiority and exteriority melts the edges and avoids a direct confrontation with power, which becomes diffuse and ambiguous (COSTA, 2006). Control is permanently exercised, without confinement, under an open sky, through evaluation mechanisms and permanent training, in a continuous and modulated time.
Handcraft objects have been deterritorialized in disciplinary society, In other words, they have had their consistency withdrawn from the real, while a repetition of the same, in order to have a logical consistency in the symbolic and in the imaginary, in terms of system – there is where the possibility of repetition of the same arises. On other hand, in a control society, the deterritorialization went beyond desrealizing even more, creating virtual machines. Whatever was considered a gear in disciplinary society became a scripture in control society or, Software. It contained a universal reader in the computer and furthermore its virtualization: cyberspace[5].
Different than the systems produced within the disciplinary society, in control society the machines have established among themselves a non-deterministic relationship. Without a regulatory center for the totality of these interactions, its boundaries remain little defined. The continuous virtualization of the machine has promoted its radical dissolution in computational logic from its conception in ancient times as craftsmanship until the time of its technical reproducibility, via the Industrial Revolution.
The dissipation of the machine in the virtualization of the computer itself, in the myriads of cyberspace, is part of the Platonic-Christian logic reading of separation of the spirit from the flesh, of the horror towards the sexual. Nowadays it has encountered its greatest victory: a machine that gives up the meaning that used to define it in return for a complete reversibility in a precession of models; hyper-reality (BAUDRILLIARD, 1976). Hyper-reality does not need to prove anything related to truth and sense, as occurs with the real, however without the curse of failure, toward an attempt to neutralize the effects of a Lacanian reality as a faulty encounter.
If for Lacan, real excludes sense, for Baudrillard the hyper-real empowers it within its transparency. Senselessness appears according to the potency for multi-senses offered by the modern machine. In a Lacanian perspective, the real would be then, according to Baudrillard, erased, in a symbolic machine, which is not concerned with sense, but with the empowerment of virtualizations. While modern machines affirm the real by reserving it a place for senselessness, this made a return to the Same possible as a logical failure, an entropy, a death drive, the side effects, etc. The contemporary machine, by involving the hyper-real, erases, using Baudrillard’s term, the real while assuming a place of similarity without sense, in the operation of reversibility and fascination of the virtual code (Idem, 1973).
If the decline of paternal function[6], i.e., the loss of a metanarrative, which is a feature of the contemporary, dissolved the panoptic model of power, it did so to obtain more efficient exchange mechanisms and to create more flexible and adaptive models for merchandise, commerce, and control flows. The virtualizations of all flesh, the transformation of bodies into codes, the erasing of traces of the real, go in the direction of a unique dream of control: the desire for modernity.
However, we may consider that if on the one hand modernity has discarded the great narratives, on other hand, in its current statute it demands a meta-machine, or a metanarrative machine, or further more, a machinic metanarrative as an effort to operate a universality of its own premises. As said by Guattari (1992), it requires a universality of significance, even if the cost of this movement is the deterioration of sense, fragmented in multiple forms of significance production, all under the fascination of the code.
Hardt and Negri (2000), draw attention to the fact that the paradigmatic form of the exercise of power of our days is no longer submission to a central agency, but volunteered, wishful, unconscious adhesion to a communication net of acentric-virtualized codes. If within the model described by the panopticon we have an imperialist situation, in the society of control we have the Empire – that is certainly not imperialist, because it does not want to sustain a tradition, does not intend to civilize savages, or generate a vanguard revolutionary movement. The Empire does not offer a universalizing narrative, but a universal means of communication through a deterritorialized, acentric, and amoral machine. Globalization is not the universalization of a language or of a life style, but the universalization of a virtual machine of biopolitic control – so we can use the terms examined by Deleuze with Foucault in order to designate forms of political and disciplinary control over life and its reproduction.
The machine that came from ancient times with a singular statute - since it could not be technically reproduced - was abstracted in the beginning of modernity within the disciplinary society by the creation of the scientific subject and differential tools. At the beginning of the 20th Century, there was the division between Hardware and Software, with the creation of a universal code reader: the computer. At the beginning of the 21st Century, within the society of control, the machine was almost completely virtualized, as the universal code reader was equally deterritorialized. The machine also needed to respond to a fragmented scientific subject, who is abstained from sense in the name of a complete transparency of information, seduced in its radical alphabet statute and complete in its binary ideal sexual typicality.


Convergence and simulacrum


According to the demands of the society of control, the universality of an acentric system of communication does not imply narrative convergence. On the contrary, the contemporary machine does not intend to semantically arrange civilization, but produce entirely new discursive forms, as if it could add more blocks to a heterodox construction. The fundamental point is that for as heterodox the available blocks could be in the creation of narrative structure, they will have a common protocol that enables communication among the objects to go beyond functionalism – their ambience, as Baudrillard (1973) had said.
The digital convergence that we are facing in our days is not exactly “convergent”, as it cannot generate a homogeneous field. On the contrary, it tends to execute more and more diverse forms of machine production. Virtualization does not simply dematerialize, as shown by Levy (1997), but it produces hybrid forms, since hybridism requires a common scenario or a code exchange system.
This convergence points to “a decline of the paternal function” the acentrism of machines, a senseless, non-semantic federative model of communication, and an amoral-connectionist discourse made of networks of networks. Following this path, it becomes evident that the internet nowadays is a paradigmatic example of this new power mold in the Empire described by Hardt and Negri (2001).
The Internet is emblematic because it responds to an acentric model, with open and frankly dissident boundaries to a control-centralized model. It is also emblematic because its architecture virtualized communication systems. It is convenient to remember here Sun’s (an internet paradigmatic enterprise) motto: the computer is the network. We should also remember that the internet arose in a federative society, a society of dissidents with disdain for the royal, metaphysical authority predominant in modern Europe.
However, the Empire does not belong to its homeland. Just as capitalism was born in Europe and became universalized, the Empire was born in America and was universalized in an incomparable way, an acentric way, wherein it is not possible to conclusively recognize its actors. Modernity, with its horror for flesh, has deterritorialized machines, work, and the body. Once the machine was deterritorialized through the internet, now modernity bears its teeth to the form, which created it: it is the moment of the deterritorialization of the internet itself.
The communication structure created by the telephone, radio, and television systems, as well as their business models, belongs to an anterior phase of modernity: the solid phase, as Bauman named it. The Empire, nevertheless, launches its tentacles upon these domains. The tendency towards the predominance of an acentric technological and business model for these segments of the communication industry does not result from a technological innovation, but from a tendency of the forms of control and reproduction of intrinsic power to this society.
The Convergence of the information, technology, and communication (ITC) systems, is not convergent. Rather, it will not create a unitary model of control. First, it overlaps contemporary control forms to modern models of biopolitical control. The entertainment sector crises, as in music and soon in the movie industry, point out fissures in their modes of contemporaneity.
We can take the phonograph industry crises as example, which needs central mechanisms to control flows: large recording labels, distributors, mass media mechanisms, beyond the governmental legal apparatus of copyright protection. It is weighty mechanism, which centralizes regulated processes and flows.
What is happening in the phonographic industry is not a surmounting of the modern production model and artwork deterritorialization, but the radicalization, virtualization, and transformation of them all: musicians, music, timbre, instruments, desire, distribution, solitary consumption, celebration rituals, etc.. These elements are moving to a symbolic mediation plan, in an acentric control machine such as peer-to-peer technology, wherein it is not easy to determine who is the consumer, distributor, or manufacturer.
The telecommunication sector, in its right, with the virtualization of the communication network, is feeling the effects of its own deterritorialization. VOIP technology, by using an acentric model of control based on internet protocols (IP), radically alter control flows within the telecommunication company business model. It is important to draw attention to the fact that VOIP technology, which enables voice and video transmission via internet, does not necessarily utilize a central server to control calls, as happens with the telephone operators.
The technology used by companies such as Skype, for example, inhabits peer-to-peer telephony connections over IP. In other words, it directly connects two users without the intervention of a control center. The central control existing in Skype assures cohesion of user ids and access to other services, as well as integration with traditional telephone systems. From this example, a long projection is not necessary to presume that the peer-to-peer technology of voice transmission will find a open space to propagate, and will become a common service of the internet, just like web or e-mail.
Even if telephone operators detain control of the broadband system, which currently permits the effective use of VOIP technology, or even if they block the use of VOIP technology over their networks[7], access can be made by alternative broadband connections, such as wireless technology, which promotes communication over radio waves and microwaves. We can take Wimax as an example of a technology capable of connecting devices, broadly diffused in metropolitan and rural areas (a range of 50km). This technology is an alternative to the telecommunication monopoly domain and a possibility for creating alternative networks that will offer acentric means of communication.
The possibility of voice and video communication by using peer-to-peer technology subverts the centralized model of communication developed in the 20th Century, threatening the telecommunication business model. The telecommunication company monopoly will not resist to the paradigm switch offered by deterritorialization of the communication networks. The fall of the monopoly does not mean, however, a victory for democracy in the media distribution systems, or an achievement of oppressed classes in a territory of new opportunities. The model change is merely readjusting the field for the dispute for power, tending to further distance outsiders from insiders. To be included in a deterritorialized world means to participate in a social network of contacts of subjective resonances, echoes of desire, and communication mediated by virtual machines of control.
Conclusion
The machine, as a scripture that defends itself, can be understood as one of the ways to face the non-sexual relationship, as defined by psychoanalysis. It has its statute modified in contemporary society toward the simulacrum logic, which abstain a plan for meta-narrative explanation in the field of sense of the world in order to be diluted as a virtual acentric machine in a global operation plan of multi, reversible, and exchangeable models.
Digital convergence is far beyond a technological unification. It has a statute of a new metanarrative, based on the seduction of code and it tends to create a nonsensical operational field of total exchange among the numerous fields of subjectification and subordination of the bodies. The idea of digital convergence hides a much larger movement that is linked to the continuous autonomy of scripture over the real.
The destitution of the sense of the modern machine in favor of the reversibility of contemporary code, as pure difference, leads us to the production of an ideal symbolic registry, or maybe an ideal of the symbolic, according to the Lacanian definition. While globalization of a significant, brought about by the banalization of the imaginary reproduced in the horizon of nonsense, amplifies diverse forms of contemporary discomfort.
Ancient media was not able to deal with the new forms of subjectification and production of desires, considering the new contemporary forms of facing non-sexual relationships, implying a revitalization of capitalism. Capitalism encounters in the emergence of the real its principle mode of operation, bloom, and dedifferentiation.

References

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Authors
Benjamin Luiz Franklin belfra@gmail.com
Consultant in Computational Intelligence. Master in Systems Engineering at IPT-SP, Expert in Psychoanalysis (Estácio de Sá University) and PhD. student at Engineering and Knowledge Management – UFSC.

Carlos Augusto Remor remor@matrix.com.br
PhD in Production Engineering by UFSC (2002). Is Professor and Head of Psychology of UFSC; Psychoanalyst, Founder (1984) and President of Maiêutica Florianópolis - Psychoanalytic Institution.
Tarcisio Vanzin tvanzin@yahoo.com.brPhD in Production Engineering from the Federal University of Santa Catarina (UFSC), 2005. Permanent Professor of the Program of Post-Graduation in Engineering and Management of Knowledge (PGEGC) - UFSC, Department of Engineering of Knowledge.Associate Professor of the Program of Post-Graduation in Architecture and Urbanism - PósArq UFSC
Gregório J. V. Rados grego@egc.ufsc.br
Phd - Manufacturing Engineering - Loughborough University (1991). He is currently associate professor at the Federal University of Santa Catarina.

[1] VOIP use has grown exponentially, with projections indicating that in 2009 more than 90% of international calls will be using this technology, constituting a real threat to communication sectors in their current business model (SLABY, 2005)
[2] We will use the word same with initial capital to designate the identity repetition.
[3]Deleuze and Gatarri, incisively criticize psychoanalysis’ universal structures, the Oedipus complex as in DELEUZE and GUATTARI’s work Anti-Oedipus or the Lacanian registries to think upon human experience (Idem, 1995). We don’t have space in this article to detail their theoretical differences. We are instead interested in what speaks about their positions on identity construction and similarities; specifically, in Lacan, of how the symbolic order is constructed or, in Deleuze and Guatarri, of how difference is impoverished and crystallized in a similarity.
[4]Turing’s machine is a theoretical device, known as universal machine. It was conceived years before the modern digital computer (the reference was published in 1936) by the British Mathematician Alan Turing (1912-1954). Precisely, it is an abstract computer model, limited to the logical features of its operation (memory, states, and transitions) and not to its physical implementation. Cf. pt.wikipedia.org/wiki/Máquina_de_Turing.

[5] This term was created by Willian Gibson in his romance called Neuromancer. It is about a consensual hallucination. However, denoting what Baudrillard defines as “the liberation of the signs of this ingenuity” (BAUDRILLARD, 1976:16).

[6] This term referrers to the psychoanalytical form of thinking about great narratives, which structured the imaginary in modernity. According to Roudinesco (2003), the paternal function is restored in a Logos divisor, which can arrange possible exchange forms in society. The contemporary movement would be the decline of this function in favor of a movement of pure difference. This movement would place the familiar model based on the patriarch into check, beyond the form of governance and production consecrated in the image of the “God father” that guides western civilization and its forms of representation.


[7] Net neutrality is discussed in another article (Franklin et al., 2006)

Mídia em crise: contemporaneidade e máquina metanarrativa.

http://aric.edugraf.ufsc.br/congrio/html/anais/anais.htm

Benjamin Luiz Franklin Ms-IPT
Carlos Augusto Remor Dr-UFSC
Tarcisio Vanzin Dr-UFSC
Gregório J. V. Rados Phd - Loughborough University

Resumo

Este trabalho tem dois objetivos. O primeiro é tentar localizar um cenário que esclareça uma crise da mídia, que tem na convergência digital uma troca paradigmática ameaçadora para os atuais modelos de negócios nas indústrias de comunicação e entretenimento. O segundo é sugerir que esta crise não advém de uma mudança tecnológica, mas de uma mudança lógica nas formas de subjetivação na modernidade. Nossa tentativa de abordar esta crise passa pelo entendimento do conceito de máquina na sociedade contemporânea, na qual a transição entre lógicas maquínicas delimita uma mudança na forma de enfrentamento do que a psicanálise chama de “não relação sexual”. Concluímos o trabalho com uma crítica à idéia de convergência digital, privilegiando o conceito de simulacro, que aponta para um movimento mais amplo de convergência epistêmica, uma nova metanarrativa, que se abstém da produção de sentido em favor do regime de fascinação do código, enquanto pura reversibilidade.

Introdução

O termo convergência digital tem sido amplamente utilizado para descrever o processo de integração, ou migração, de diversas tecnologias já existentes para um padrão digital compatível com os protocolos e padrões da internet. Negroponte (1997), em A vida digital, define “convergência digital” como a conversão de átomos em bits, e aponta uma contradição na formulação do modelo de negócios erigidos pela indústria de comunicação e entretenimento no século XX: sendo a informação muito mais importante do que a mídia que lhe oferece suporte, a indústria se formou em torno da venda material dos seu produtos imateriais – e agora sofrem com a quebra de seus monopólios em algum ponto, seja na produção, na distribuição ou no consumo de suas mercadorias ou serviços, justamente porque têm vinculado informação à mídia que lhes dá suporte.

Lembremos que a indústria fonográfica, representada pela RIAA (Recording Industry Association of America), alega ter perdido mais de 10% de vendas em CDs anualmente, e tem culpado a utilização de sistemas de compartilhamento de arquivos ponto a ponto, na internet, que vem triplicando o número de usuários a cada ano (OBERHOLZER e STRUMPF, 2006). Na indústria de telecomunicações – VOIP, que significa voz sobre IP e possibilita ligações telefônicas pela internet, tem se tornado uma tendência[1]. Para vídeos: o Youtube produz mais horas de audiovisual em seis meses do que as três principais redes de entretenimento americanas juntas em cinqüenta anos (WESCH, 2009).

Neste trabalho, pretendemos problematizar essas “tendências” para convergência digital. Em outras palavras, tentaremos compreender não as mudanças tecnológicas que ameaçam os antigos modelos de negócios dos setores de mídia e comunicação, mas, antes, as forças que operam para que essas mudanças ocorram como um conjunto de “tendências”. A força anterior à tecnologia, que pretendemos destacar, relaciona-se com a definição de Negroponte, que aponta para uma exigência moderna de mundo atomista: a idéia de equivalência entre uma entidade indivisível que pode ser representada como outra unidade indivisível. Átomos e bits poderiam ser convertidos, postos em uma equação, e portanto ser orquestrados de forma a fazer um jogo completo de equivalências, como em uma linguagem ideal, como se não houvesse perda nenhuma neste movimento.

O conceito de máquina na modernidade pode servir a uma tentativa de compreensão desta iniciativa – de conquista de uma linguagem ideal – que, no entanto, apresenta o seguinte aparente paradoxo: se, por um lado, parece haver uma queda das grandes narrativas, por outro, parece surgir uma outra forma de unidade. O conceito de máquina pode ser revelador na investigação do que poderíamos chamar – e veremos em que condições poderíamos fazê-lo – de uma nova metanarrativa imaginária no contemporâneo, que encontra na convergência digital um dos seus movimentos mais emblemáticos.

Conceito de máquina
O conceito de máquina que buscamos pode ser articulado com o conceito de repetição. O percurso que propomos está comprometido com a visão deleuziana de que não existe essencialmente a repetição do mesmo, de que a repetição aponta sempre uma diferença – no sentido de que o pensamento pode problematizar a representação ideal da identidade (DELEUZE, 1998). Inicialmente, este posicionamento pode parecer bastante contraditório, uma vez que não apenas parece existir repetição por toda a parte, como essas repetições pareceriam comportar uma ordem. Nessa perspectiva, o conhecimento consistiria justamente em descobrir esse encadeamento de repetições.

Nossa primeira tarefa, portanto, consiste em não forçar um divórcio entre a impossibilidade da repetição e a possibilidade de representação, procurando entender, contudo, a operação que possibilita os efeitos de repetição – ou, como explica Deleuze e Guattari (1992), o pensamento implica fazer com que os universais sejam explicados. Dado um universo que não se repete, como podemos obter uma ilusão de repetição do Mesmo[2], a semelhança, para que possamos aplicar uma função de identidade como A=A? A afirmação de identidade, do tipo A=A, segundo Lacan, ocorre apenas no campo semântico, na cópula do verbo ser (REMOR, 2007), em que podemos dispor de cópulas lógicas – mecanismos de inferências por meio dos quais podemos relacionar entidades de um domínio. Lacan afirma que A não é igual a A, em outras palavras, em seu aforismo não há relação sexual, a identidade ou a cópula do verbo ser é imaginária, não existe de forma independente de um sujeito que enuncie esta identidade. Neste ponto Lacan e Deleuze convergem – não há essencialismos, em uma postura crítica em relação ao platonismo e ao estruturalismo[3].

Lacan articulou os principais conceitos da psicanálise por meio de três “registros”: o real, o simbólico e o imaginário. Estes três “registros” seriam indissociáveis, e permitiram a Lacan localizar conceitos de maneira a provocar novas formas de articulação e novas abordagem das questões freudianas. Expressando de maneira resumida, podemos entender o registro do real como sendo o da falha nos modos de representação, apontando para uma repetição daquilo que “claudica”, ou seja, o retorno de uma falha, do impossível, ou a repetição de uma diferença, um retorno do sem-sentido que se torna traumático por resistir às formas de nomeação. O real seria aquilo que retorna para o mesmo lugar; porém, o mesmo lugar é uma falha na proposição do sentido. Podemos pensar que não há a repetição do Mesmo no real, pois no real não há sequer a possibilidade de repetição, na medida em que não há acoplamento do verbo ser, nem há lei que o organize (FREIRE, 1997).

A repetição do Mesmo, enquanto identidade, no sentindo proposto na cópula lógica do verbo ser, ocorre, para Lacan, somente em um sentido semântico. O registro do simbólico seria esta dimensão de ordenamento da linguagem, que precederia o ser falante e o assujeitaria a um enquadramento, fazendo com que a linguagem fale por intermédio do vivente. Seria, portanto, a ordem simbólica que faria uma aquisição do corpo, uma vez este assujeitado à sua estrutura. O processo de subjetivação estaria vinculado, segundo Lacan, ao processo de entrada na cultura por meio da linguagem e suas estruturas simbólicas; em suma: o movimento de tornar o ser falante subordinado a um campo lógico preexistente (LACAN, 1993).

Não obstante, a repetição do Mesmo privilegiaria também o registro do imaginário. Se no simbólico ocorre um ordenamento de pura diferença em uma estrutura, no imaginário ocorre a identidade destes elementos com um sentido e uma significação. O imaginário inclui uma dimensão narcísica, na qual o falante atribui um sentido unitário à sua forma, uma similaridade, uma dualidade e uma autonomia (REMOR, 2007).

A repetição que se associa ao conceito de máquina, neste trabalho, enquanto operação de uma identidade e um sentido, ou seja, uma relação sexual imaginária dada pela cópula do verbo ser em um retorno para um Mesmo unitário e similar, exclui o registro do real – mesmo que de uma forma também imaginária. Lembremos que Lacan descreve o real como sendo também aquele que não cessa de não se inscrever.

Se o conceito de real, enquanto um registro que se situa fora da significação, do sentido e da identidade, não suporta a repetição do Mesmo, por outro lado, também não suporta o conceito de Máquina que procuramos por se relacionar com a identidade. lança mão de um sonho para destacar a exclusão do real na Interpretação dos Sonhos de Freud (1976). Um pai sonha com seu filho de pé ao lado de seu leito. O filho apanha-o pelo braço e sussurra-lhe em tom de censura: “Pai, não vê que estou queimando?”. Em seguida há o despertar. Já em vigília, no quarto ao lado, há o funeral do filho e o crepitar de chamas incendiando o caixão. A interpretação de Lacan põe peso, o despertar, não na realidade percebida pelo som exterior, mas na realidade da mensagem “Pai, não vê que estou queimando?”.

Para Lacan, dado o aparecimento do sem sentido na morte do filho, o pai atende à mensagem que aponta para a sua responsabilidade no registro do imaginário. O pai acorda de um enfrentamento traumático do sem sentido, no sonho, para assumir um sentido na vigília, mesmo que seja o de censura dado pelo filho. Em outras palavras, acorda do sem sentido do real para continuar dormindo na realidade, enquanto um local de significação e gramatização, mas fora da castração traumática do sem sentido (LACAN, 1993).

Dada a repetição traumática da diferença radical no real, foge-se para a realidade da linguagem e suas formas de contenção e paradigmatização da repetição na identidade. Em poucas palavras: foge-se paraa realidade e não darealidade. A repetição do Mesmo ocorre na realidade e encontra na escritura uma forma privilegiada de ordenamento, na medida em que esta última possui um efeito de interioridade.

A máquina tem efeitos de uma escritura, no sentido de sua realização (transferir para a realidade), como os sonhos – que Freud denominou como a realização de um desejo. A máquina aplica uma semantização do mundo e esconde a interioridade desta estrutura na realidade. A máquina, enquanto discursividade, no entanto, não precisa de um defensor como texto. Isso porque ela defende a si mesma no interior da sua lógica discursiva, dentro de seu mecanismo de relações sexuais imaginárias. A máquina opera em uma estrutura, como uma escritura, mas pode operar leituras, ou seja, movimentos de significação em sua própria interioridade, pois muda as posições de seus nodos, cria deslocamentos metonímicos sem a presença de um sujeito necessário às escrituras. A máquina defende a si mesma.

Modernidade e máquina

Na época antiga, com os gregos, os deuses se revelavam pela palavra sagrada, e a matemática procurava relações estéticas ideais e estabelecia uma demanda pelo convencimento e pela retórica ocorridos na esfera pública da pólis (VERNANT, 2003). Na modernidade, com o advento das formas neoplatônicas do cristianismo, a verdade passou a se relacionar com o deus único, imponderável, cuja a descrição apenas o distanciava em seu horror metafísico (KOLAKOWSKI, 1998). Esta nova atribuição divina possibilitou uma nova ambição, que tornou a verdade um atributo do homem, já que deus não poderia ser descrito, mas que garantiria, de uma forma transcendental e inefável, que os códigos secretos da natureza pudessem ser decifrados pela razão. Conforme explica Milner (1996), é a partir dessa nova possibilidade que pode surgir uma nova forma de descrição do mundo, ancorada sobre a matematização do real e a criação do sujeito da ciência (Descartes) – um sujeito sem qualidades, impessoal capaz de descrever o mundo por caracteres matemáticos.

A máquina diferencial, proposta por Newton e Leibniz no século XVII, pressupõe a existência de um mundo que obedece a uma lei transcendental, uma metalinguagem que possa ser descrita em termos matemáticos – e que exista, não obstante, uma divindade que ofereça garantias do cumprimento da lei: um deus proletário (CABAS, 1997). Esta centralidade estrutural, bem como a funcionalidade sistêmica da máquina na modernidade, responde logicamente às indicações de Foucault ao que denominou de sociedade disciplinar – decorrente da institucionalização e da racionalização de mecanismos disciplinares para regulamentação de práticas sociais surgidas entre os séculos XVIII e XX, e cujo dispositivo de controle emblemático era o panóptico (FOUCAULT, 1997).

O panóptico é uma forma arquitetônica que consiste num ponto central que tem consciência das ações dos nodos periféricos. Estes nodos, por sua vez, não facultam uma visão completa do centro de controle nem dos outros nodos do sistema, tendo como finalidade “induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento autoritário do poder” (id., p.166). A sociedade disciplinar demanda centros de controle bem estabelecidos, capazes de sustentar a coesão simbólica dos sistemas de poder – sejam sistemas de controle da produção de bens materiais, como a indústria, sejam na produção de bens simbólicos, como na escola e na família. O sistema de telefonia, de radiofonia e televisivo são emblemáticos, tanto em seus padrões tecnológicos, quanto em seu modelo de negócios: são grandes panópticos. São sistemas que precisam de centros de controle e se governam em monopólios, criam unidades discursivas e visões unitárias e integradas do mundo. São como gigantescas máquinas diferenciais que se sustentam com base em uma verdade consistente em sujeito indeterminado.

O pensamento sistêmico, enquanto uma modalidade de escritura moderna, ao estabelecer claramente relações de causa e efeito dentro de um mesmo círculo, reafirmou a herança platônica de primazia da idéia sobre a forma, na qual há prioridade do espírito sobre a carne, ou seja, a boa forma ideal como um projeto criador e disciplinador. Se na máquina antiga a idéia de reprodução técnica estava subordinada à singularidade do real, enquanto um retorno do não-sentido na condição de diferença (e daí o seu aspecto artesanal), na máquina moderna a sua reprodutibilidade é total, dada a sua origem preservada no plano da escritura, uma vez que a diferença das formas em relação ao seu projeto original pode ser vista como aquém do seu projeto ideal. A forma não disciplinada pela funcionalidade do espírito pode ser descartada e substituída, sem prejuízo do sistema em sua funcionalidade universal (LÉVY, 1998).

O movimento contínuo desta operação é a produção de universais, infinitamente integráveis em um esquema classificatório do espírito, na separação e privilégio constantes entre a representação e suas formas degradadas na carne – a foice metafísica da modernidade mais uma vez separou a máquina de seu suporte. A distinção entre hardware e software, operada por Turing no início do século XX, foi um golpe emblemático da modernidade na criação de uma máquina que pudesse emular outras máquinas, desde que esta fosse alimentada com um projeto, com a escritura apropriada: o software.[4] O Hardware, ou seja, o leitor universal das escrituras da modernidade, cumpre seu papel de minimizar o rugido das máquinas reais, rumo a uma utopia de formas sistêmicas completamente administráveis pela razão.

A realização de Turing sobre o estatuto da máquina implica a leitura das fórmulas de Leibniz, no sentido da produção de um alfabeto radical, na lógica binária, em que tudo pode ser criado a partir da disjunção absoluta entre a ausência e presença, zero ou um (DELEUZE, 1991). Se na base do alfabeto binário temos uma separação ontológica radical, podemos derivar uma série de diferenças combinatórias que preservam o conteúdo das identidades binárias. Com a máquina moderna, criamos um duplo ideal da natureza, ou melhor, semantizamos a natureza na máquina; mas, com a operação de Turing sobre a teologia de Leibniz, inaugura-se a máquina diferencial, a protomáquina de virtuais, uma vez que a separação entre leitor e escritura está finalmente abolida, e criado um leitor objetivado em bases universais (LEAVIT, 2007).


Máquina contemporânea

O amadurecimento do capitalismo, como explica Bauman (2001), não mudou a sua lógica de abstração, pelo contrário: apontou para formas de abstração ainda mais eficazes. Se na modernidade o corte ontológico era dado por pares de opostos, com a exaltação desta lógica outros cortes foram feitos, novas categorias foram criadas, novas rupturas, uma hiperdisciplinaridade. Tanto assim é que aqueles opostos deixaram de se opor, conquanto fossem intercambiáveis, codificados. Sem sentido, mas permutáveis no sentido leibniziano; sem centro, mas virtuais enquanto permutas de um alfabeto radical em sua diferença genética, Deleuze chamou este novo ordenamento de sociedade de controle (DELEUZE , 1995).

Na sociedade de controle, o panóptico foi substituído por módulos interconectados, sem um mecanismo central. Aqui, a idéia de um sistema que desafie as noções de interioridade e exterioridade dissolvem bordas e evitam um confrontamento direto com o poder, que se torna difuso e ambíguo (COSTA 2006). O controle é exercido permanentemente, sem confinamento, a céu aberto, por meio de mecanismos de avaliação e treinamento permanentes, em um tempo contínuo e modulado.

Os objetos do artesanato foram desterritorializados na sociedade disciplinar, ou seja, tiveram suas consistências retiradas do real, enquanto uma repetição da diferença, para ter uma consistência lógica no simbólico e no imaginário, enquanto sistema – daí sua possibilidade de repetição do Mesmo. Já na sociedade de controle, a lógica da desterritorialização foi além, “desrealizando” ainda mais, criando máquinas virtuais. O que era uma engrenagem na sociedade disciplinar tornou-se uma escritura, um software, com um leitor universal: o computador; e ainda sua virtualização: o ciberespaço[5].


As máquinas na sociedade de controle estabelecem entre suas partes uma relação não determinística, ao contrário dos sistemas produzidos na sociedade disciplinar. Sem um centro regulador da totalidade destas interações, suas fronteiras permanecem pouco definidas. A virtualização contínua da máquina, desde a sua concepção na antiguidade, como artesanato, até à sua época de reprodutibilidade técnica, por meio da revolução industrial, promove sua dissolução radical na lógica computacional.

A dissipação da máquina na virtualização do próprio computador, nas miríades do ciberespaço, compõe a lógica da leitura platônico-cristã de separação entre o espírito e a carne, do horror ao sexual, que hoje encontrou sua forma plena de vitória: uma máquina que cede o sentido que a definia em troca de uma reversibilidade completa em uma precessão de modelos, a hiper-realidade (BAUDRILLARD, 1976) – que não tem nada a dever em relação à verdade e ao sentido, tal como ocorre com o real, porém sem a maldição de fracasso, na direção de tentar neutralizar os efeitos de um real lacaniano como encontro faltoso. Se, para Lacan, o real exclui o sentido, para Baudrillard o hyper-real o potencializa, dentro de sua transparência, ou seja, o sem-sentido aparece devido à potência para múltiplos sentidos que a máquina contemporânea oferece. O real, no sentido lacanianos seria, portanto, apagado, em uma máquina simbólica que não se fixaria em um sentido, mas que potencializaria virtualizações. Em resumo: enquanto a máquina moderna afirmava o real ao lhe reservar o local do não-sentido, possibilitava o retorno a um Mesmo como fracasso lógico, a entropia, a pulsão de morte, o efeito colateral, etc. A máquina contemporânea, ao implicar o hiper-real, apaga, usando o termo de Baudrillard, o real, ao assumir ela mesma um local de semelhança sem sentido, na operação de reversibilidade e fascínio do código no virtual (Idem, 1973).

Se a queda da ordem paterna[6], ou seja, a perda de uma metanarrativa, característica da contemporaneidade, relativizou o modelo panóptico de poder, o fez para conseguir mecanismos de trocas mais eficientes, para criar modelos mais flexíveis e adaptativos para os fluxos de mercadoria, comércio e controle. A virtualização de toda carne, a transformação dos corpos em códigos, o apagamento dos traços do real, vão em direção a um único sonho de controle: o desejo da modernidade.

Podemos pensar, não obstante, que, se por um lado a modernidade descartou as grandes narrativas, por outro, em seu atual estatuto, demanda uma metamáquina, ou uma máquina metanarrativa, ou ainda, uma metanarrativa maquínica, no sentido de operar uma universalização de sua premissa, ou, com Guattari (1992), a universalização de um significante, mesmo que o custo deste movimento seja o desfalecimento do sentido, fragmentado em múltiplas formas de produção de significações, todas sob o fascínio do código.

Hardt e Negri (2000) apontam que a forma paradigmática de exercício de poder dos nossos dias não é mais a submissão a uma agência centralizada, mas a adesão voluntária, desejante, inconsciente, a uma rede de comunicação de códigos virtualizados acêntricos. Se no modelo descrito pelo panóptico temos uma situação imperialista, na sociedade de controle temos o Império – que certamente não é imperialista, pois não quer sustentar uma tradição, não pretende civilizar selvagens, nem gerar um movimento revolucionário de vanguarda.

O Império não oferece uma narrativa universalizante, mas uma forma universal de comunicação, mediante uma máquina desterritorializada, acêntrica e amoral. A globalização não é a universalização de uma língua, ou de um estilo de vida, mas a universalização de uma máquina virtual de controle biopolítico – para utilizarmos o termos trabalhado por Deleuze com Foucault, e que designa as formas de controle político e disciplinar sobre a vida e sua reprodução.

A máquina, que saiu da idade antiga com um estatuto singular, pois não reprodutível tecnicamente, foi abstraída, no início da modernidade, na sociedade disciplinar, pela criação do sujeito da ciência e das ferramentas diferenciais. No início do século XX, foi dividida em hardware e software, com a criação de um leitor universal de códigos: o computador. No início do século XXI, na sociedade de controle, a máquina foi quase totalmente virtualizada, pois o leitor universal de códigos foi igualmente desterritorializado, além de responder a um sujeito da ciência fragmentado, que se abstém do sentido em nome de uma transparência completa da informação, seduzida em seu estatuto de alfabeto radical completo em sua tipicidade sexual ideal, binária.


Convergência e simulacro

A universalização de um sistema acêntrico de comunicação, conforme a demanda da sociedade de controle, não significa uma convergência narrativa; pelo contrário, a máquina contemporânea não pretende ordenar semanticamente a civilização, mas produzir formas discursivas inteiramente novas, como se pudesse acrescentar mais blocos em uma construção heterodoxa. O ponto fundamental é que, por mais heterogêneos que sejam os blocos disponíveis para a criação de estruturas narrativas, estes terão um protocolo em comum que possibilita a comunicação entre os objetos para além de um funcionalismo, sua ambiência, como destaca Baudrillard (1973).

A convergência para o meio digital que vivemos em nossos dias não é exatamente “convergente”, ou seja, não pode gerar um plano homogêneo mas; ao contrário, tende a realizar formas cada vez mais diversas de produção de máquinas. A virtualização não desmaterializa simplesmente, como nos lembra Levy (1997), mas produz formas híbridas, uma vez que o hibridismo precisa de um pano de fundo em comum, um sistema de troca de códigos.

A convergência aponta para a “queda da ordem paterna”, para o acentrismo das máquinas, para um modelo federativo de comunicação, sem sentido, não semântico, uma produção de discurso amoral-conexionista, feito de redes de redes. Evidencia-se, seguindo esta trilha, que a internet hoje é o exemplo paradigmático desta nova forma de poder no Império de Hardt e Negri (2001).

A internet é emblemática, pois responde ao modelo acêntrico, com fronteiras abertas e francamente dissidente a um modelo centralizador de controle. É emblemática também porque sua arquitetura virtualizou os sistemas de comunicação. Lembremos o lema da Sun, empresa paradigmática da rede: the computer is the network.[7] Lembremos também que a internet surgiu em uma sociedade federativa – com desprezo pela autoridade real (metafísica) predominante na Europa, na modernidade – , uma sociedade de dissidentes.

O Império, no entanto, não pertence à sua pátria natal. Assim como o capitalismo nasceu na Europa e se universalizou, também o Império nasceu na América e foi universalizado de forma incomparável, de forma acêntrica, sem que possamos delimitar seus atores de forma conclusiva. A modernidade, com seu horror pela carne, tem desterritorializado máquinas, o trabalho e o próprio corpo. Uma vez desterritorializada a própria máquina, por intermédio da rede, agora a modernidade aponta seus dentes para a forma que a criou: é o momento de desterritorializar a própria rede.

A estrutura de comunicação criada pelos sistemas de telefonia, pelo radiofônico e pelo televisivo, assim como seus modelos de negócios, pertencem à fase anterior da modernidade: a fase sólida, usando os termos de Bauman. O Império, não obstante, lança os seus tentáculos também sobre estes domínios. A tendência à predominância de um modelo acêntrico de tecnologia e negócios para esses segmentos da comunicação não provém de uma inovação tecnológica, mas de uma tendência das formas de controle e reprodução de poder intrínsecas a esta sociedade.

A convergência dos sistemas de tecnologia de informação e comunicação (TIC) não é convergente, ou seja, não criará um modelo unitário de controle. Antes, sobrepõe formas de controle contemporâneas a modelos modernos de controle biopolítico. A crise nos setores de entretenimento, como na música e brevemente no cinema, apontam para fraturas em seus modelos de contemporaneidade.

Tomemos, por exemplo, a crise da indústria fonográfica, que precisa de mecanismos centrais de controle de fluxo, as grandes gravadoras, as distribuidoras, os mecanismos de mídia de massa, além de um aparato jurídico estatal de preservação de direitos autorais. É um maquinário pesado, centralizador de fluxos e processos normatizados.

O que está acontecendo na indústria fonográfica não é uma superação deste modelo moderno de produção e desterritorialização da obra de arte, mas a sua radicalização, a virtualização, a transformação de todos: dos músicos, da música, dos timbres, dos instrumentos, do desejo, da distribuição, do consumo solitário, dos rituais de celebração... Estes elementos estão se deslocando para um plano de mediatização simbólica, em uma máquina acêntrica de controle, como uma tecnologia ponto a ponto, em que o consumidor, o distribuidor e o produtor se confundem.

O setor de telecomunicações, por sua vez, com a virtualização da própria rede de comunicações, está sentindo os efeitos de sua própria desterritorialização. A tecnologia VOIP, ao utilizar um modelo acêntrico de controle, baseado nos protocolos da internet (IP), altera radicalmente o controle de fluxos do modelo de negócios das empresas de telecomunicações. Lembremos que a tecnologia VOIP, que habilita a transmissão de voz e vídeo pela internet, não utiliza, necessariamente, um servidor central de controle de chamadas, como acontece com as operadoras de telefonia.

A tecnologia utilizada por empresas como a Skype, por exemplo, habilita conexões ponto a ponto de telefonia sobre IP; em outras palavras: conecta dois usuários diretamente sem intervenção de um controle central. O controle central que existe no Skype garante uma coesão de nomes de usuários e acessos a outros serviços, como a integração com o sistema telefônico tradicional. A partir deste exemplo, não é necessária uma longa projeção para propor que a tecnologia ponto a ponto de transmissão de voz sobre IP encontrará um espaço aberto de disseminação, e se tornará um serviço comum da rede, assim como outros serviços como a web ou o email.

Mesmo que as operadoras de telefonia detenham o controle do sistema de banda larga, as quais permitem um uso efetivo da tecnologia VOIP atualmente, e ainda mais, que estas operadoras bloqueiem o uso de tecnologia VOIP por suas redes,[8] este acesso poderá ser substituído por formas alternativas de conexão em banda larga. A tecnologia wireless (sem fio) permite conectar dispositivos sem a utilização de fios, promovendo comunicação por ondas de rádio e microondas. Em sua aparição metropolitana: Wimax, ou seja, uma tecnologia sem fio capaz de conectar dispositivos distribuídos em largas áreas metropolitanas e rurais (raio de cobertura de 50 km), poderá oferecer uma alternativa ao domínio das teles e criar redes alternativas que oferecerão comunicação de forma acêntrica.

A possibilidade de comunicação de voz e vídeo, utilizando tecnologia ponto a ponto, subverte o modelo centralizado de comunicação desenvolvido no século XX, colocando em cheque o modelo de negócios das empresas de telecomunicação. O monopólio das empresas de comunicação não resistirá à mudança de paradigma oferecida pela desterritorialização das próprias redes de comunicação. A queda de monopólios não significa, no entanto, uma vitória da democracia nos sistemas de distribuição de mídia, ou uma conquista das classes oprimidas em um território de novas exclusividades. A mudança de modelo apenas reorienta o campo de disputa por poder, tendendo a distanciar ainda mais os excluídos dos incluídos, pois estar incluído, em um mundo desterritorializado, significa participar de uma rede de contatos de ressonâncias subjetivas, de ecos de desejos e comunicações mediadas por máquinas virtuais de controle.

Conclusão

A máquina, enquanto escritura que defende a si mesma, pode ser entendida como uma das formas de enfrentamento da não-relação sexual, no sentido dado pela psicanálise, e tem seu estatuto modificado na sociedade contemporânea, em direção à lógica do simulacro, que abstém um plano de explicação metanarrativa, no campo do sentido do mundo, para se diluir, enquanto máquina virtual acêntrica, em um plano de operação global de múltiplos modelos reversíveis e intercambiáveis.

A convergência digital está para além de uma unificação tecnológica, tem o estatuto de uma nova metanarrativa, baseada na sedução do código, e tende a criar um campo de operação nonsensical de troca total entre os diversos campos de assujeitamento e subordinação dos corpos. A idéia de convergência digital esconde um movimento mais amplo que está intimamente associado com a contínua autonomia da escritura sobre o real.

A destituição do sentido da máquina moderna em favor da reversibilidade do código contemporâneo, enquanto pura diferença, remete à produção de um registro simbólico ideal, ou talvez um ideal do simbólico, segundo as pistas lacanianas, enquanto globalização de um significante, às custas da banalização do imaginário que se reproduz no horizonte do sem-sentido, ampliando formas diversas no mal-estar contemporâneo.

A antiga mídia não é capaz de lidar com as novas formas de subjetivação e de produção de desejos, levando em conta as formas contemporâneas de enfrentamento da não-relação sexual, implicando em uma revitalização do capitalismo. Este último encontra na eclosão do real o seu principal modo de operação, florescimento e desdiferenciação.


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Autores:


Benjamin Luiz Franklin belfra@gmail.com
Consultor em Inteligência Computacional. Mestre em Engenharia de Sistemas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, Especialista em Psicanálise pela Universidade Estácio de Sá e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – UFSC.

Carlos Augusto Remor remor@matrix.com.br
Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC (2002). É Professor e Chefe do Departamento de Psicologia da UFSC; Psicanalista Freudo-lacaniano; Fundador (1984) e Presidente da Maiêutica Florianópolis - Instituição Psicanalítica.

Tarcisio Vanzin tvanzin@yahoo.com.br
Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC (2005). Professor do corpo permanente do Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento PGEGC- UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia do Conhecimento.Professor Colaborador do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PósArq UFSC.

Gregório J. V. Rados grego@egc.ufsc.br
Phd - Manufacturing Engineering - Loughborough University (1991). Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina.
[1] A utilização de VOIP tem crescido exponencialmente, e projeções indicam que em 2009 mais de 90% das ligações internacionais utilizarão esta tecnologia, constituindo-se assim uma ameaça para os setores de comunicação em seu atual modelo de negócios (SLABY, 2005).
[2]Usaremos a palavra mesmo com letra inicial maiúscula para designar a repetição da identidade.
[3] Deleuze e Guattari, por seu turno, criticam contundentemente as estruturas universais da psicanálise, seja o complexo de édipo em Anti-Édipo (DELEUZE e GUATTARI, 1998) ou os registros lacanianos para pensar a experiência humana (Idem, 1995). Não temos espaço, neste artigo, para detalharmos suas diferenças teóricas. Estamos interessados, por outro lado, no que diz respeito às suas posições sobre a construções de identidades e semelhanças, mais especificamente, em Lacan, como é constituída a ordem simbólica ou, com Deleuze e Guattari, como a diferença é empobrecida e plasmada em uma semelhança.
[4]A máquina de Turing é um dispositivo teórico, conhecido como máquina universal, que foi concebido pelo matemático britânico Alan Turing (1912-1954), muitos anos antes de existirem os modernos computadores digitais (o artigo de referência foi publicado em 1936). Num sentido preciso, é um modelo abstrato de um computador, que se restringe apenas aos aspectos lógicos do seu funcionamento (memória, estados e transições) e não à sua implementação física. Cf. pt.wikipedia.org/wiki/Máquina_de_Turing
[5]O termo ciberespaço foi criado por William Gibson em seu romance Neuromancer. Refere-se a uma alucinação consensual, porém no sentido do que Baudrillard chama de uma libertação dos “signos dessa “ingenuidade” para os lançar na circulação pura” (BAUDRILLARD, 1976:16).
[6]Este termo se refere à forma psicanalítica de pensar o fim das grandes narrativas que estruturavam o imaginário na modernidade. Segundo Roudinesco (2003), a ordem paterna é instaurada em um Logos separador que pode ordenar as formas de trocas possíveis na sociedade. O movimento contemporâneo seria o de queda desta função em favor de um movimento de pura diferença. Este movimento colocaria em cheque o modelo familiar baseado no patriarcado, além das formas de governo e produção consagradas na figura do “Deus Pai” que nortearia a civilização ocidental e suas formas de representação.
[7]“O computador é a rede”, em uma tradução literal – abrindo, no entanto, a possibilidade para “O computador está na rede”. Ver http://www.sun.com.
[8]Trata-se do problema da neutralidade da rede, que tratamos em outro artigo (Franklin et al., 2006)