sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mídia em crise: contemporaneidade e máquina metanarrativa.

http://aric.edugraf.ufsc.br/congrio/html/anais/anais.htm

Benjamin Luiz Franklin Ms-IPT
Carlos Augusto Remor Dr-UFSC
Tarcisio Vanzin Dr-UFSC
Gregório J. V. Rados Phd - Loughborough University

Resumo

Este trabalho tem dois objetivos. O primeiro é tentar localizar um cenário que esclareça uma crise da mídia, que tem na convergência digital uma troca paradigmática ameaçadora para os atuais modelos de negócios nas indústrias de comunicação e entretenimento. O segundo é sugerir que esta crise não advém de uma mudança tecnológica, mas de uma mudança lógica nas formas de subjetivação na modernidade. Nossa tentativa de abordar esta crise passa pelo entendimento do conceito de máquina na sociedade contemporânea, na qual a transição entre lógicas maquínicas delimita uma mudança na forma de enfrentamento do que a psicanálise chama de “não relação sexual”. Concluímos o trabalho com uma crítica à idéia de convergência digital, privilegiando o conceito de simulacro, que aponta para um movimento mais amplo de convergência epistêmica, uma nova metanarrativa, que se abstém da produção de sentido em favor do regime de fascinação do código, enquanto pura reversibilidade.

Introdução

O termo convergência digital tem sido amplamente utilizado para descrever o processo de integração, ou migração, de diversas tecnologias já existentes para um padrão digital compatível com os protocolos e padrões da internet. Negroponte (1997), em A vida digital, define “convergência digital” como a conversão de átomos em bits, e aponta uma contradição na formulação do modelo de negócios erigidos pela indústria de comunicação e entretenimento no século XX: sendo a informação muito mais importante do que a mídia que lhe oferece suporte, a indústria se formou em torno da venda material dos seu produtos imateriais – e agora sofrem com a quebra de seus monopólios em algum ponto, seja na produção, na distribuição ou no consumo de suas mercadorias ou serviços, justamente porque têm vinculado informação à mídia que lhes dá suporte.

Lembremos que a indústria fonográfica, representada pela RIAA (Recording Industry Association of America), alega ter perdido mais de 10% de vendas em CDs anualmente, e tem culpado a utilização de sistemas de compartilhamento de arquivos ponto a ponto, na internet, que vem triplicando o número de usuários a cada ano (OBERHOLZER e STRUMPF, 2006). Na indústria de telecomunicações – VOIP, que significa voz sobre IP e possibilita ligações telefônicas pela internet, tem se tornado uma tendência[1]. Para vídeos: o Youtube produz mais horas de audiovisual em seis meses do que as três principais redes de entretenimento americanas juntas em cinqüenta anos (WESCH, 2009).

Neste trabalho, pretendemos problematizar essas “tendências” para convergência digital. Em outras palavras, tentaremos compreender não as mudanças tecnológicas que ameaçam os antigos modelos de negócios dos setores de mídia e comunicação, mas, antes, as forças que operam para que essas mudanças ocorram como um conjunto de “tendências”. A força anterior à tecnologia, que pretendemos destacar, relaciona-se com a definição de Negroponte, que aponta para uma exigência moderna de mundo atomista: a idéia de equivalência entre uma entidade indivisível que pode ser representada como outra unidade indivisível. Átomos e bits poderiam ser convertidos, postos em uma equação, e portanto ser orquestrados de forma a fazer um jogo completo de equivalências, como em uma linguagem ideal, como se não houvesse perda nenhuma neste movimento.

O conceito de máquina na modernidade pode servir a uma tentativa de compreensão desta iniciativa – de conquista de uma linguagem ideal – que, no entanto, apresenta o seguinte aparente paradoxo: se, por um lado, parece haver uma queda das grandes narrativas, por outro, parece surgir uma outra forma de unidade. O conceito de máquina pode ser revelador na investigação do que poderíamos chamar – e veremos em que condições poderíamos fazê-lo – de uma nova metanarrativa imaginária no contemporâneo, que encontra na convergência digital um dos seus movimentos mais emblemáticos.

Conceito de máquina
O conceito de máquina que buscamos pode ser articulado com o conceito de repetição. O percurso que propomos está comprometido com a visão deleuziana de que não existe essencialmente a repetição do mesmo, de que a repetição aponta sempre uma diferença – no sentido de que o pensamento pode problematizar a representação ideal da identidade (DELEUZE, 1998). Inicialmente, este posicionamento pode parecer bastante contraditório, uma vez que não apenas parece existir repetição por toda a parte, como essas repetições pareceriam comportar uma ordem. Nessa perspectiva, o conhecimento consistiria justamente em descobrir esse encadeamento de repetições.

Nossa primeira tarefa, portanto, consiste em não forçar um divórcio entre a impossibilidade da repetição e a possibilidade de representação, procurando entender, contudo, a operação que possibilita os efeitos de repetição – ou, como explica Deleuze e Guattari (1992), o pensamento implica fazer com que os universais sejam explicados. Dado um universo que não se repete, como podemos obter uma ilusão de repetição do Mesmo[2], a semelhança, para que possamos aplicar uma função de identidade como A=A? A afirmação de identidade, do tipo A=A, segundo Lacan, ocorre apenas no campo semântico, na cópula do verbo ser (REMOR, 2007), em que podemos dispor de cópulas lógicas – mecanismos de inferências por meio dos quais podemos relacionar entidades de um domínio. Lacan afirma que A não é igual a A, em outras palavras, em seu aforismo não há relação sexual, a identidade ou a cópula do verbo ser é imaginária, não existe de forma independente de um sujeito que enuncie esta identidade. Neste ponto Lacan e Deleuze convergem – não há essencialismos, em uma postura crítica em relação ao platonismo e ao estruturalismo[3].

Lacan articulou os principais conceitos da psicanálise por meio de três “registros”: o real, o simbólico e o imaginário. Estes três “registros” seriam indissociáveis, e permitiram a Lacan localizar conceitos de maneira a provocar novas formas de articulação e novas abordagem das questões freudianas. Expressando de maneira resumida, podemos entender o registro do real como sendo o da falha nos modos de representação, apontando para uma repetição daquilo que “claudica”, ou seja, o retorno de uma falha, do impossível, ou a repetição de uma diferença, um retorno do sem-sentido que se torna traumático por resistir às formas de nomeação. O real seria aquilo que retorna para o mesmo lugar; porém, o mesmo lugar é uma falha na proposição do sentido. Podemos pensar que não há a repetição do Mesmo no real, pois no real não há sequer a possibilidade de repetição, na medida em que não há acoplamento do verbo ser, nem há lei que o organize (FREIRE, 1997).

A repetição do Mesmo, enquanto identidade, no sentindo proposto na cópula lógica do verbo ser, ocorre, para Lacan, somente em um sentido semântico. O registro do simbólico seria esta dimensão de ordenamento da linguagem, que precederia o ser falante e o assujeitaria a um enquadramento, fazendo com que a linguagem fale por intermédio do vivente. Seria, portanto, a ordem simbólica que faria uma aquisição do corpo, uma vez este assujeitado à sua estrutura. O processo de subjetivação estaria vinculado, segundo Lacan, ao processo de entrada na cultura por meio da linguagem e suas estruturas simbólicas; em suma: o movimento de tornar o ser falante subordinado a um campo lógico preexistente (LACAN, 1993).

Não obstante, a repetição do Mesmo privilegiaria também o registro do imaginário. Se no simbólico ocorre um ordenamento de pura diferença em uma estrutura, no imaginário ocorre a identidade destes elementos com um sentido e uma significação. O imaginário inclui uma dimensão narcísica, na qual o falante atribui um sentido unitário à sua forma, uma similaridade, uma dualidade e uma autonomia (REMOR, 2007).

A repetição que se associa ao conceito de máquina, neste trabalho, enquanto operação de uma identidade e um sentido, ou seja, uma relação sexual imaginária dada pela cópula do verbo ser em um retorno para um Mesmo unitário e similar, exclui o registro do real – mesmo que de uma forma também imaginária. Lembremos que Lacan descreve o real como sendo também aquele que não cessa de não se inscrever.

Se o conceito de real, enquanto um registro que se situa fora da significação, do sentido e da identidade, não suporta a repetição do Mesmo, por outro lado, também não suporta o conceito de Máquina que procuramos por se relacionar com a identidade. lança mão de um sonho para destacar a exclusão do real na Interpretação dos Sonhos de Freud (1976). Um pai sonha com seu filho de pé ao lado de seu leito. O filho apanha-o pelo braço e sussurra-lhe em tom de censura: “Pai, não vê que estou queimando?”. Em seguida há o despertar. Já em vigília, no quarto ao lado, há o funeral do filho e o crepitar de chamas incendiando o caixão. A interpretação de Lacan põe peso, o despertar, não na realidade percebida pelo som exterior, mas na realidade da mensagem “Pai, não vê que estou queimando?”.

Para Lacan, dado o aparecimento do sem sentido na morte do filho, o pai atende à mensagem que aponta para a sua responsabilidade no registro do imaginário. O pai acorda de um enfrentamento traumático do sem sentido, no sonho, para assumir um sentido na vigília, mesmo que seja o de censura dado pelo filho. Em outras palavras, acorda do sem sentido do real para continuar dormindo na realidade, enquanto um local de significação e gramatização, mas fora da castração traumática do sem sentido (LACAN, 1993).

Dada a repetição traumática da diferença radical no real, foge-se para a realidade da linguagem e suas formas de contenção e paradigmatização da repetição na identidade. Em poucas palavras: foge-se paraa realidade e não darealidade. A repetição do Mesmo ocorre na realidade e encontra na escritura uma forma privilegiada de ordenamento, na medida em que esta última possui um efeito de interioridade.

A máquina tem efeitos de uma escritura, no sentido de sua realização (transferir para a realidade), como os sonhos – que Freud denominou como a realização de um desejo. A máquina aplica uma semantização do mundo e esconde a interioridade desta estrutura na realidade. A máquina, enquanto discursividade, no entanto, não precisa de um defensor como texto. Isso porque ela defende a si mesma no interior da sua lógica discursiva, dentro de seu mecanismo de relações sexuais imaginárias. A máquina opera em uma estrutura, como uma escritura, mas pode operar leituras, ou seja, movimentos de significação em sua própria interioridade, pois muda as posições de seus nodos, cria deslocamentos metonímicos sem a presença de um sujeito necessário às escrituras. A máquina defende a si mesma.

Modernidade e máquina

Na época antiga, com os gregos, os deuses se revelavam pela palavra sagrada, e a matemática procurava relações estéticas ideais e estabelecia uma demanda pelo convencimento e pela retórica ocorridos na esfera pública da pólis (VERNANT, 2003). Na modernidade, com o advento das formas neoplatônicas do cristianismo, a verdade passou a se relacionar com o deus único, imponderável, cuja a descrição apenas o distanciava em seu horror metafísico (KOLAKOWSKI, 1998). Esta nova atribuição divina possibilitou uma nova ambição, que tornou a verdade um atributo do homem, já que deus não poderia ser descrito, mas que garantiria, de uma forma transcendental e inefável, que os códigos secretos da natureza pudessem ser decifrados pela razão. Conforme explica Milner (1996), é a partir dessa nova possibilidade que pode surgir uma nova forma de descrição do mundo, ancorada sobre a matematização do real e a criação do sujeito da ciência (Descartes) – um sujeito sem qualidades, impessoal capaz de descrever o mundo por caracteres matemáticos.

A máquina diferencial, proposta por Newton e Leibniz no século XVII, pressupõe a existência de um mundo que obedece a uma lei transcendental, uma metalinguagem que possa ser descrita em termos matemáticos – e que exista, não obstante, uma divindade que ofereça garantias do cumprimento da lei: um deus proletário (CABAS, 1997). Esta centralidade estrutural, bem como a funcionalidade sistêmica da máquina na modernidade, responde logicamente às indicações de Foucault ao que denominou de sociedade disciplinar – decorrente da institucionalização e da racionalização de mecanismos disciplinares para regulamentação de práticas sociais surgidas entre os séculos XVIII e XX, e cujo dispositivo de controle emblemático era o panóptico (FOUCAULT, 1997).

O panóptico é uma forma arquitetônica que consiste num ponto central que tem consciência das ações dos nodos periféricos. Estes nodos, por sua vez, não facultam uma visão completa do centro de controle nem dos outros nodos do sistema, tendo como finalidade “induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento autoritário do poder” (id., p.166). A sociedade disciplinar demanda centros de controle bem estabelecidos, capazes de sustentar a coesão simbólica dos sistemas de poder – sejam sistemas de controle da produção de bens materiais, como a indústria, sejam na produção de bens simbólicos, como na escola e na família. O sistema de telefonia, de radiofonia e televisivo são emblemáticos, tanto em seus padrões tecnológicos, quanto em seu modelo de negócios: são grandes panópticos. São sistemas que precisam de centros de controle e se governam em monopólios, criam unidades discursivas e visões unitárias e integradas do mundo. São como gigantescas máquinas diferenciais que se sustentam com base em uma verdade consistente em sujeito indeterminado.

O pensamento sistêmico, enquanto uma modalidade de escritura moderna, ao estabelecer claramente relações de causa e efeito dentro de um mesmo círculo, reafirmou a herança platônica de primazia da idéia sobre a forma, na qual há prioridade do espírito sobre a carne, ou seja, a boa forma ideal como um projeto criador e disciplinador. Se na máquina antiga a idéia de reprodução técnica estava subordinada à singularidade do real, enquanto um retorno do não-sentido na condição de diferença (e daí o seu aspecto artesanal), na máquina moderna a sua reprodutibilidade é total, dada a sua origem preservada no plano da escritura, uma vez que a diferença das formas em relação ao seu projeto original pode ser vista como aquém do seu projeto ideal. A forma não disciplinada pela funcionalidade do espírito pode ser descartada e substituída, sem prejuízo do sistema em sua funcionalidade universal (LÉVY, 1998).

O movimento contínuo desta operação é a produção de universais, infinitamente integráveis em um esquema classificatório do espírito, na separação e privilégio constantes entre a representação e suas formas degradadas na carne – a foice metafísica da modernidade mais uma vez separou a máquina de seu suporte. A distinção entre hardware e software, operada por Turing no início do século XX, foi um golpe emblemático da modernidade na criação de uma máquina que pudesse emular outras máquinas, desde que esta fosse alimentada com um projeto, com a escritura apropriada: o software.[4] O Hardware, ou seja, o leitor universal das escrituras da modernidade, cumpre seu papel de minimizar o rugido das máquinas reais, rumo a uma utopia de formas sistêmicas completamente administráveis pela razão.

A realização de Turing sobre o estatuto da máquina implica a leitura das fórmulas de Leibniz, no sentido da produção de um alfabeto radical, na lógica binária, em que tudo pode ser criado a partir da disjunção absoluta entre a ausência e presença, zero ou um (DELEUZE, 1991). Se na base do alfabeto binário temos uma separação ontológica radical, podemos derivar uma série de diferenças combinatórias que preservam o conteúdo das identidades binárias. Com a máquina moderna, criamos um duplo ideal da natureza, ou melhor, semantizamos a natureza na máquina; mas, com a operação de Turing sobre a teologia de Leibniz, inaugura-se a máquina diferencial, a protomáquina de virtuais, uma vez que a separação entre leitor e escritura está finalmente abolida, e criado um leitor objetivado em bases universais (LEAVIT, 2007).


Máquina contemporânea

O amadurecimento do capitalismo, como explica Bauman (2001), não mudou a sua lógica de abstração, pelo contrário: apontou para formas de abstração ainda mais eficazes. Se na modernidade o corte ontológico era dado por pares de opostos, com a exaltação desta lógica outros cortes foram feitos, novas categorias foram criadas, novas rupturas, uma hiperdisciplinaridade. Tanto assim é que aqueles opostos deixaram de se opor, conquanto fossem intercambiáveis, codificados. Sem sentido, mas permutáveis no sentido leibniziano; sem centro, mas virtuais enquanto permutas de um alfabeto radical em sua diferença genética, Deleuze chamou este novo ordenamento de sociedade de controle (DELEUZE , 1995).

Na sociedade de controle, o panóptico foi substituído por módulos interconectados, sem um mecanismo central. Aqui, a idéia de um sistema que desafie as noções de interioridade e exterioridade dissolvem bordas e evitam um confrontamento direto com o poder, que se torna difuso e ambíguo (COSTA 2006). O controle é exercido permanentemente, sem confinamento, a céu aberto, por meio de mecanismos de avaliação e treinamento permanentes, em um tempo contínuo e modulado.

Os objetos do artesanato foram desterritorializados na sociedade disciplinar, ou seja, tiveram suas consistências retiradas do real, enquanto uma repetição da diferença, para ter uma consistência lógica no simbólico e no imaginário, enquanto sistema – daí sua possibilidade de repetição do Mesmo. Já na sociedade de controle, a lógica da desterritorialização foi além, “desrealizando” ainda mais, criando máquinas virtuais. O que era uma engrenagem na sociedade disciplinar tornou-se uma escritura, um software, com um leitor universal: o computador; e ainda sua virtualização: o ciberespaço[5].


As máquinas na sociedade de controle estabelecem entre suas partes uma relação não determinística, ao contrário dos sistemas produzidos na sociedade disciplinar. Sem um centro regulador da totalidade destas interações, suas fronteiras permanecem pouco definidas. A virtualização contínua da máquina, desde a sua concepção na antiguidade, como artesanato, até à sua época de reprodutibilidade técnica, por meio da revolução industrial, promove sua dissolução radical na lógica computacional.

A dissipação da máquina na virtualização do próprio computador, nas miríades do ciberespaço, compõe a lógica da leitura platônico-cristã de separação entre o espírito e a carne, do horror ao sexual, que hoje encontrou sua forma plena de vitória: uma máquina que cede o sentido que a definia em troca de uma reversibilidade completa em uma precessão de modelos, a hiper-realidade (BAUDRILLARD, 1976) – que não tem nada a dever em relação à verdade e ao sentido, tal como ocorre com o real, porém sem a maldição de fracasso, na direção de tentar neutralizar os efeitos de um real lacaniano como encontro faltoso. Se, para Lacan, o real exclui o sentido, para Baudrillard o hyper-real o potencializa, dentro de sua transparência, ou seja, o sem-sentido aparece devido à potência para múltiplos sentidos que a máquina contemporânea oferece. O real, no sentido lacanianos seria, portanto, apagado, em uma máquina simbólica que não se fixaria em um sentido, mas que potencializaria virtualizações. Em resumo: enquanto a máquina moderna afirmava o real ao lhe reservar o local do não-sentido, possibilitava o retorno a um Mesmo como fracasso lógico, a entropia, a pulsão de morte, o efeito colateral, etc. A máquina contemporânea, ao implicar o hiper-real, apaga, usando o termo de Baudrillard, o real, ao assumir ela mesma um local de semelhança sem sentido, na operação de reversibilidade e fascínio do código no virtual (Idem, 1973).

Se a queda da ordem paterna[6], ou seja, a perda de uma metanarrativa, característica da contemporaneidade, relativizou o modelo panóptico de poder, o fez para conseguir mecanismos de trocas mais eficientes, para criar modelos mais flexíveis e adaptativos para os fluxos de mercadoria, comércio e controle. A virtualização de toda carne, a transformação dos corpos em códigos, o apagamento dos traços do real, vão em direção a um único sonho de controle: o desejo da modernidade.

Podemos pensar, não obstante, que, se por um lado a modernidade descartou as grandes narrativas, por outro, em seu atual estatuto, demanda uma metamáquina, ou uma máquina metanarrativa, ou ainda, uma metanarrativa maquínica, no sentido de operar uma universalização de sua premissa, ou, com Guattari (1992), a universalização de um significante, mesmo que o custo deste movimento seja o desfalecimento do sentido, fragmentado em múltiplas formas de produção de significações, todas sob o fascínio do código.

Hardt e Negri (2000) apontam que a forma paradigmática de exercício de poder dos nossos dias não é mais a submissão a uma agência centralizada, mas a adesão voluntária, desejante, inconsciente, a uma rede de comunicação de códigos virtualizados acêntricos. Se no modelo descrito pelo panóptico temos uma situação imperialista, na sociedade de controle temos o Império – que certamente não é imperialista, pois não quer sustentar uma tradição, não pretende civilizar selvagens, nem gerar um movimento revolucionário de vanguarda.

O Império não oferece uma narrativa universalizante, mas uma forma universal de comunicação, mediante uma máquina desterritorializada, acêntrica e amoral. A globalização não é a universalização de uma língua, ou de um estilo de vida, mas a universalização de uma máquina virtual de controle biopolítico – para utilizarmos o termos trabalhado por Deleuze com Foucault, e que designa as formas de controle político e disciplinar sobre a vida e sua reprodução.

A máquina, que saiu da idade antiga com um estatuto singular, pois não reprodutível tecnicamente, foi abstraída, no início da modernidade, na sociedade disciplinar, pela criação do sujeito da ciência e das ferramentas diferenciais. No início do século XX, foi dividida em hardware e software, com a criação de um leitor universal de códigos: o computador. No início do século XXI, na sociedade de controle, a máquina foi quase totalmente virtualizada, pois o leitor universal de códigos foi igualmente desterritorializado, além de responder a um sujeito da ciência fragmentado, que se abstém do sentido em nome de uma transparência completa da informação, seduzida em seu estatuto de alfabeto radical completo em sua tipicidade sexual ideal, binária.


Convergência e simulacro

A universalização de um sistema acêntrico de comunicação, conforme a demanda da sociedade de controle, não significa uma convergência narrativa; pelo contrário, a máquina contemporânea não pretende ordenar semanticamente a civilização, mas produzir formas discursivas inteiramente novas, como se pudesse acrescentar mais blocos em uma construção heterodoxa. O ponto fundamental é que, por mais heterogêneos que sejam os blocos disponíveis para a criação de estruturas narrativas, estes terão um protocolo em comum que possibilita a comunicação entre os objetos para além de um funcionalismo, sua ambiência, como destaca Baudrillard (1973).

A convergência para o meio digital que vivemos em nossos dias não é exatamente “convergente”, ou seja, não pode gerar um plano homogêneo mas; ao contrário, tende a realizar formas cada vez mais diversas de produção de máquinas. A virtualização não desmaterializa simplesmente, como nos lembra Levy (1997), mas produz formas híbridas, uma vez que o hibridismo precisa de um pano de fundo em comum, um sistema de troca de códigos.

A convergência aponta para a “queda da ordem paterna”, para o acentrismo das máquinas, para um modelo federativo de comunicação, sem sentido, não semântico, uma produção de discurso amoral-conexionista, feito de redes de redes. Evidencia-se, seguindo esta trilha, que a internet hoje é o exemplo paradigmático desta nova forma de poder no Império de Hardt e Negri (2001).

A internet é emblemática, pois responde ao modelo acêntrico, com fronteiras abertas e francamente dissidente a um modelo centralizador de controle. É emblemática também porque sua arquitetura virtualizou os sistemas de comunicação. Lembremos o lema da Sun, empresa paradigmática da rede: the computer is the network.[7] Lembremos também que a internet surgiu em uma sociedade federativa – com desprezo pela autoridade real (metafísica) predominante na Europa, na modernidade – , uma sociedade de dissidentes.

O Império, no entanto, não pertence à sua pátria natal. Assim como o capitalismo nasceu na Europa e se universalizou, também o Império nasceu na América e foi universalizado de forma incomparável, de forma acêntrica, sem que possamos delimitar seus atores de forma conclusiva. A modernidade, com seu horror pela carne, tem desterritorializado máquinas, o trabalho e o próprio corpo. Uma vez desterritorializada a própria máquina, por intermédio da rede, agora a modernidade aponta seus dentes para a forma que a criou: é o momento de desterritorializar a própria rede.

A estrutura de comunicação criada pelos sistemas de telefonia, pelo radiofônico e pelo televisivo, assim como seus modelos de negócios, pertencem à fase anterior da modernidade: a fase sólida, usando os termos de Bauman. O Império, não obstante, lança os seus tentáculos também sobre estes domínios. A tendência à predominância de um modelo acêntrico de tecnologia e negócios para esses segmentos da comunicação não provém de uma inovação tecnológica, mas de uma tendência das formas de controle e reprodução de poder intrínsecas a esta sociedade.

A convergência dos sistemas de tecnologia de informação e comunicação (TIC) não é convergente, ou seja, não criará um modelo unitário de controle. Antes, sobrepõe formas de controle contemporâneas a modelos modernos de controle biopolítico. A crise nos setores de entretenimento, como na música e brevemente no cinema, apontam para fraturas em seus modelos de contemporaneidade.

Tomemos, por exemplo, a crise da indústria fonográfica, que precisa de mecanismos centrais de controle de fluxo, as grandes gravadoras, as distribuidoras, os mecanismos de mídia de massa, além de um aparato jurídico estatal de preservação de direitos autorais. É um maquinário pesado, centralizador de fluxos e processos normatizados.

O que está acontecendo na indústria fonográfica não é uma superação deste modelo moderno de produção e desterritorialização da obra de arte, mas a sua radicalização, a virtualização, a transformação de todos: dos músicos, da música, dos timbres, dos instrumentos, do desejo, da distribuição, do consumo solitário, dos rituais de celebração... Estes elementos estão se deslocando para um plano de mediatização simbólica, em uma máquina acêntrica de controle, como uma tecnologia ponto a ponto, em que o consumidor, o distribuidor e o produtor se confundem.

O setor de telecomunicações, por sua vez, com a virtualização da própria rede de comunicações, está sentindo os efeitos de sua própria desterritorialização. A tecnologia VOIP, ao utilizar um modelo acêntrico de controle, baseado nos protocolos da internet (IP), altera radicalmente o controle de fluxos do modelo de negócios das empresas de telecomunicações. Lembremos que a tecnologia VOIP, que habilita a transmissão de voz e vídeo pela internet, não utiliza, necessariamente, um servidor central de controle de chamadas, como acontece com as operadoras de telefonia.

A tecnologia utilizada por empresas como a Skype, por exemplo, habilita conexões ponto a ponto de telefonia sobre IP; em outras palavras: conecta dois usuários diretamente sem intervenção de um controle central. O controle central que existe no Skype garante uma coesão de nomes de usuários e acessos a outros serviços, como a integração com o sistema telefônico tradicional. A partir deste exemplo, não é necessária uma longa projeção para propor que a tecnologia ponto a ponto de transmissão de voz sobre IP encontrará um espaço aberto de disseminação, e se tornará um serviço comum da rede, assim como outros serviços como a web ou o email.

Mesmo que as operadoras de telefonia detenham o controle do sistema de banda larga, as quais permitem um uso efetivo da tecnologia VOIP atualmente, e ainda mais, que estas operadoras bloqueiem o uso de tecnologia VOIP por suas redes,[8] este acesso poderá ser substituído por formas alternativas de conexão em banda larga. A tecnologia wireless (sem fio) permite conectar dispositivos sem a utilização de fios, promovendo comunicação por ondas de rádio e microondas. Em sua aparição metropolitana: Wimax, ou seja, uma tecnologia sem fio capaz de conectar dispositivos distribuídos em largas áreas metropolitanas e rurais (raio de cobertura de 50 km), poderá oferecer uma alternativa ao domínio das teles e criar redes alternativas que oferecerão comunicação de forma acêntrica.

A possibilidade de comunicação de voz e vídeo, utilizando tecnologia ponto a ponto, subverte o modelo centralizado de comunicação desenvolvido no século XX, colocando em cheque o modelo de negócios das empresas de telecomunicação. O monopólio das empresas de comunicação não resistirá à mudança de paradigma oferecida pela desterritorialização das próprias redes de comunicação. A queda de monopólios não significa, no entanto, uma vitória da democracia nos sistemas de distribuição de mídia, ou uma conquista das classes oprimidas em um território de novas exclusividades. A mudança de modelo apenas reorienta o campo de disputa por poder, tendendo a distanciar ainda mais os excluídos dos incluídos, pois estar incluído, em um mundo desterritorializado, significa participar de uma rede de contatos de ressonâncias subjetivas, de ecos de desejos e comunicações mediadas por máquinas virtuais de controle.

Conclusão

A máquina, enquanto escritura que defende a si mesma, pode ser entendida como uma das formas de enfrentamento da não-relação sexual, no sentido dado pela psicanálise, e tem seu estatuto modificado na sociedade contemporânea, em direção à lógica do simulacro, que abstém um plano de explicação metanarrativa, no campo do sentido do mundo, para se diluir, enquanto máquina virtual acêntrica, em um plano de operação global de múltiplos modelos reversíveis e intercambiáveis.

A convergência digital está para além de uma unificação tecnológica, tem o estatuto de uma nova metanarrativa, baseada na sedução do código, e tende a criar um campo de operação nonsensical de troca total entre os diversos campos de assujeitamento e subordinação dos corpos. A idéia de convergência digital esconde um movimento mais amplo que está intimamente associado com a contínua autonomia da escritura sobre o real.

A destituição do sentido da máquina moderna em favor da reversibilidade do código contemporâneo, enquanto pura diferença, remete à produção de um registro simbólico ideal, ou talvez um ideal do simbólico, segundo as pistas lacanianas, enquanto globalização de um significante, às custas da banalização do imaginário que se reproduz no horizonte do sem-sentido, ampliando formas diversas no mal-estar contemporâneo.

A antiga mídia não é capaz de lidar com as novas formas de subjetivação e de produção de desejos, levando em conta as formas contemporâneas de enfrentamento da não-relação sexual, implicando em uma revitalização do capitalismo. Este último encontra na eclosão do real o seu principal modo de operação, florescimento e desdiferenciação.


Bibliografia

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Autores:


Benjamin Luiz Franklin belfra@gmail.com
Consultor em Inteligência Computacional. Mestre em Engenharia de Sistemas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, Especialista em Psicanálise pela Universidade Estácio de Sá e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – UFSC.

Carlos Augusto Remor remor@matrix.com.br
Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC (2002). É Professor e Chefe do Departamento de Psicologia da UFSC; Psicanalista Freudo-lacaniano; Fundador (1984) e Presidente da Maiêutica Florianópolis - Instituição Psicanalítica.

Tarcisio Vanzin tvanzin@yahoo.com.br
Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC (2005). Professor do corpo permanente do Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento PGEGC- UFSC Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia do Conhecimento.Professor Colaborador do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PósArq UFSC.

Gregório J. V. Rados grego@egc.ufsc.br
Phd - Manufacturing Engineering - Loughborough University (1991). Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina.
[1] A utilização de VOIP tem crescido exponencialmente, e projeções indicam que em 2009 mais de 90% das ligações internacionais utilizarão esta tecnologia, constituindo-se assim uma ameaça para os setores de comunicação em seu atual modelo de negócios (SLABY, 2005).
[2]Usaremos a palavra mesmo com letra inicial maiúscula para designar a repetição da identidade.
[3] Deleuze e Guattari, por seu turno, criticam contundentemente as estruturas universais da psicanálise, seja o complexo de édipo em Anti-Édipo (DELEUZE e GUATTARI, 1998) ou os registros lacanianos para pensar a experiência humana (Idem, 1995). Não temos espaço, neste artigo, para detalharmos suas diferenças teóricas. Estamos interessados, por outro lado, no que diz respeito às suas posições sobre a construções de identidades e semelhanças, mais especificamente, em Lacan, como é constituída a ordem simbólica ou, com Deleuze e Guattari, como a diferença é empobrecida e plasmada em uma semelhança.
[4]A máquina de Turing é um dispositivo teórico, conhecido como máquina universal, que foi concebido pelo matemático britânico Alan Turing (1912-1954), muitos anos antes de existirem os modernos computadores digitais (o artigo de referência foi publicado em 1936). Num sentido preciso, é um modelo abstrato de um computador, que se restringe apenas aos aspectos lógicos do seu funcionamento (memória, estados e transições) e não à sua implementação física. Cf. pt.wikipedia.org/wiki/Máquina_de_Turing
[5]O termo ciberespaço foi criado por William Gibson em seu romance Neuromancer. Refere-se a uma alucinação consensual, porém no sentido do que Baudrillard chama de uma libertação dos “signos dessa “ingenuidade” para os lançar na circulação pura” (BAUDRILLARD, 1976:16).
[6]Este termo se refere à forma psicanalítica de pensar o fim das grandes narrativas que estruturavam o imaginário na modernidade. Segundo Roudinesco (2003), a ordem paterna é instaurada em um Logos separador que pode ordenar as formas de trocas possíveis na sociedade. O movimento contemporâneo seria o de queda desta função em favor de um movimento de pura diferença. Este movimento colocaria em cheque o modelo familiar baseado no patriarcado, além das formas de governo e produção consagradas na figura do “Deus Pai” que nortearia a civilização ocidental e suas formas de representação.
[7]“O computador é a rede”, em uma tradução literal – abrindo, no entanto, a possibilidade para “O computador está na rede”. Ver http://www.sun.com.
[8]Trata-se do problema da neutralidade da rede, que tratamos em outro artigo (Franklin et al., 2006)

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